Somente neste ano, a Polícia Federal já apreendeu uma
tonelada e meia de cocaína em contêineres ou misturados a mercadorias. Isso
significa mais de R$ 357 milhões ilegais
A
fragilidade da segurança e a falta de fiscalização no complexo portuário do
Espírito Santo têm facilitado a ação de quadrilhas especializadas em tráfico
internacional de drogas. Do começo deste ano até agora, 1.500 quilos de cocaína
já foram apreendidos pela Polícia Federal, totalizando US$ 105 milhões – algo
em torno de R$ 357 milhões.
A
carga ilegal tem como principal destino a Europa e muitas vezes segue viagem
dentro de contêineres e escondida em mercadorias. Para agravar o cenário, o
esquema conta, inclusive, com a participação de funcionários dos portos,
segundo informação da Polícia Federal.
No
dia 6 de dezembro, a PF apreendeu 253 quilos de cocaína em um contêiner que
iria para a Espanha através do Porto de Capuaba, Vila Velha. Considerando-se o valor
do quilo da cocaína na Europa, de US$ 70 mil, a droga apreendida vale mais de
US$ 17 milhões.
Na
ocasião, o presidente da Desportiva Ferroviária, Edney Costa, e outras seis
pessoas foram presas. Ele é portuário e acusado pela Polícia Federal de ser “peça
central” da quadrilha.
Segundo
o delegado Leonardo Damasceno, chefe da Delegacia de Repressão a Entorpecentes,
os portos capixabas precisam reforçar a segurança para não se consolidarem como
rota do tráfico internacional. “O tráfico internacional pelo modal marítimo é
uma realidade. Temos recordes atrás de recordes de apreensão nos portos. O Porto
de Santos bateu o recorde ano passado e nesse ano já bateu o recorde novamente.
Os terminais têm que se adaptar a essa nova realidade, têm que aumentar a segurança
para não ser alvo fácil dessas organizações (criminosas)”, avaliou.
Apreensões
Em
outubro, 433kg de cocaína foram flagrados em um navio que iria para a Bélgica,
através do Porto de Vila Velha. Em setembro, 500kg de cocaína foram encontrados
dentro de um bloco de mármore, em Cachoeiro de Itapemirim, e 123kg da droga
foram apreendidos em blocos de granito na Serra. Tudo isso deixaria o Espírito
Santo pelos portos.
Para
o especialista em Segurança Pública e Privada Alexandre Domingos, falta de tecnologia,
pouca estrutura da Polícia Federal e o envolvimento de funcionários são alguns
dos facilitadores do esquema ilegal.
“Quando
a Polícia Federal rastreia um, pode ter certeza que vários já passaram. Os
portos, de uma forma geral, são muito vulneráveis. Não existe controle de
cargas e com o nível de tecnologia de um aeroporto. São contêineres enormes,
muitos navios, e a Polícia Federal e Guarda Portuária não têm efetivos para
fazer um trabalho de qualidade. Torna fácil trabalho de traficantes”, afirmou.
Conivência
O
especialista ainda destacou que para o tráfico de drogas funcionar na área
portuária é necessário a participação de
funcionários do porto, pessoas que participam do processo de carga e descarga.
“É
um grande mercado de bilhões e bilhões de dólares e eles compram pessoas no
mundo todo. Às vezes aquele funcionário nem tinha uma índole ruim, mas está
passando por uma situação de necessidade e acaba aceitando a grande quantia,
que para o traficante não é quase nada”, ressaltou.
Para
Domingos, outros órgãos de controle policial teriam que auxiliar no combate às
drogas que entram e saem nas embarcações. “Deveria existir uma parceria entre
Polícia Federal, Militar, Civil e até mesmo com a segurança privada. A
legislação deveria permitir isso e com atuação eficiente do Judiciário”,
alertou.
Outro Lado
Procurada,
a Companhia Docas do Espírito Santo (Codesa), informou que o porto público conta
com segurança feita pela Guarda Portuária, que é treinada e capacitada, com a
contribuição da Policia Federal. Além disso, há a inspeção cargas feita pela
Alfândega, que fiscaliza os terminais públicos e privados.
A
Codesa informou, ainda, que a atuação de fiscalização nos terminais públicos
continuará sendo feita de forma rigorosa e que em toda suspeita de tráfico, a
Guarda Portuária aciona a Polícia Federal e a Alfândega.
Já
em relação aos terminais privados, a Codesa informou que não possui direito de
fiscalização e que esse trabalho é feito pelas empresas de segurança
contratadas por cada terminal, além da Polícia Federal e da Alfândega.
"A
Codesa lamenta o ocorrido e parabeniza o trabalho da Polícia Federal, se
colocando a disposição sempre que for preciso para ajudar na apuração deste e
outros casos", informou a assessoria de imprensa da Companhia, por
telefone.
Fonte:
Jornal Gazeta
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