Envolvidos atuavam no Porto de Santos e em aeroportos do
Rio e Curitiba
Esquema sonegava impostos, cujo montante alcança R$ 25,5
milhões
A
Justiça Federal, a pedido do Ministério Público Federal em Santos, no litoral
de São Paulo, condenou quatro envolvidos em um esquema de importações
fraudulentas de diversos produtos, incluindo dois servidores da Receita
Federal. A quadrilha sonegava impostos, e o montante desviado alcança, pelo
menos, R$ 25,5 milhões.
O
grupo, formado por mais de 30 pessoas, atuou de 2010 até a deflagração da
Operação Navio Fantasma, em março de 2012. Segundo o MPF, no início, os
envolvidos adotaram a modalidade “trânsito aduaneiro de passagem”. O esquema
funcionava nos aeroportos Afonso Pena (Curitiba) e Tom Jobim (Rio de Janeiro) e
no Porto de Santos. Os produtos chegavam em aviões e eram despachados para o
cais santista. No entanto, os caminhões desviavam o trajeto e levavam as cargas
aos reais compradores no Brasil, sem o pagamento de impostos. Em Santos,
funcionários do Fisco registravam falsamente a chegada dos carregamentos.
Após
o início das investigações, em 2011, a quadrilha mudou a forma de burlar as
importações e passou a adotar a modalidade “trânsito aduaneiro de entrada
comum”. Os produtos seguiam o mesmo percurso e eram igualmente desviados. A
diferença estava no tratamento recebido em Santos. Os auditores da Receita
concluíam a fraude preenchendo formulários que indicavam o encaminhamento da
carga para áreas do porto onde não havia fiscalização ou incidência de
tributos. Das 85 operações irregulares realizadas, 70 foram feitas nesse
esquema.
Os
auditores da Receita Federal burlavam os procedimentos regulares de importação,
impedindo a fiscalização alfandegária em benefício próprio e de terceiros, que
auxiliavam e beneficiavam-se das ilegalidades. A investigação apontou o aumento
desproporcional do patrimônio dos servidores em relação às suas rendas, o que
indica o recebimento de propina para a operação das fraudes.
Condenados
A
soma das penas aplicadas aos quatro condenados ultrapassa os 30 anos de prisão.
Dois deles são servidores da Receita Federal: o auditor Carlos Emiliano
Alexandre Patzsch e o analista tributário Laertes Cassiano Lazarotto. Ambos
foram condenados por corrupção passiva e facilitação de descaminho, e deverão
cumprir 10 anos e 25 dias cada. A sentença ainda responsabiliza Carlos por
formação de quadrilha, o que aumenta em um ano sua pena. A 6ª Vara Federal de
Santos determinou, também, a perda dos cargos públicos e a entrega à União de
quantias em real e dólar que os servidores receberam como propina, apreendidas
quando a operação foi deflagrada.
Os
outros dois condenados são Paulo Barbosa Junior e Vagno Fonseca de Moura, que
deverão cumprir penas de quatro anos e cinco meses cada por corrupção ativa.
Paulo foi identificado como mentor e coordenador do grupo criminoso, sendo
responsável pelo contato com os clientes e por providenciar a execução de todas
as etapas do esquema, desde a contratação das empresas que prestavam os
serviços de importação e transporte até a destinação de propinas aos agentes
públicos. Já Vagno estava incumbido de realizar os pagamentos ilícitos aos
servidores da Receita em Curitiba e levar informações sobre as cargas a serem
desembarcadas no Afonso Pena. Os réus poderão recorrer em liberdade.
Todos
os envolvidos no esquema de sonegação, inclusive os integrantes do núcleo que
agia em Curitiba, já respondem a uma ação de improbidade administrativa, também
proposta pelo MPF. Em agosto de 2015, a Justiça Federal acolheu o pedido
liminar da Procuradoria e determinou a indisponibilidade de bens dos réus, no
total de R$ 76,4 milhões. A quantia corresponde ao volume de recursos necessários
para que eles cumpram eventual sentença condenatória que os obrigue a ressarcir
o valor sonegado e pagar multa civil correspondente a duas vezes o prejuízo
causado aos cofres públicos. Os acusados respondem ainda a outras ações penais,
relacionadas aos grupos que atuavam no Rio de Janeiro e em São Paulo.
Fonte:
G1 Santos
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