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sexta-feira, 4 de novembro de 2016

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COMBUSTÍVEL DOS NAVIOS MATA 200 MIL PESSOAS A CADA CINCO ANOS NO MUNDO


(foto: shortsea)

O transporte marítimo é o maior emissor mundial de enxofre
Um estudo conduzido por um grupo de pesquisadores dos Estados Unidos e da Finlândia revela que em um período de cinco anos 200 mil pessoas podem morrer em todo o mundo por causa de doenças causadas pelo enxofre contido no combustível usado no transporte marítimo. No Brasil, onde a poluição marítima responde por 4,1% das mortes por poluição do ar, as vítimas podem chegar a 1700 pessoas por ano.  
O transporte marítimo é o maior emissor mundial de enxofre.  Atualmente o óleo combustível para navios é o combustível mais prejudicial em uso no transporte, com um teor de enxofre até 3.500 vezes maior do que as últimas normas europeias para o diesel utilizado em veículos.  E enxofre mata.  No processo de queima do combustível, os navios emitem dióxido de enxofre – o mesmo que gera a chuva ácida.  Ele é conhecido por ter efeitos irreversíveis na saúde humana, além de impactos ambientais e climáticos. Pequenas partículas de dióxido de enxofre, que são transportadas pelo ar, entram em nossa respiração e levam a riscos de saúde fatais, incluindo câncer de pulmão e doenças cardiovasculares, que podem resultar em mortes prematuras.
O tráfego de navios é muitas vezes ignorado como uma ameaça à saúde, em comparação com carros e fábricas, mesmo tendo mais do que duplicado em várias partes do mundo nos últimos anos.   Até o momento, poucos estudos haviam analisado os impactos na saúde decorrente da poluição transporte aéreo em escala global e nenhum abrangia todas as regiões do mundo e todos os tipos de doenças ao mesmo tempo. No entanto, os resultados falam por si: um recente estudo chinês estimou que o só o dióxido de enxofre e outros poluentes dos navios causam cerca de 24.000 mortes prematuras por ano na Ásia Oriental. Um estudo de 2007 do Prof. James Corbett et al, intitulado "Mortality from Ship Emissions: A Global Assessment" descobriu que as emissões de material particulado relacionado com o transporte marítimo são responsáveis por aproximadamente 60.000 mortes por câncer cardiopulmonar e de pulmão por ano.  Outro estudo, de 2009, liderado pelo professor James Winebrake - Mitigating the Health Impacts ofPollution from Oceangoing Shipping - estimou uma redução de 40% nas mortes provocadas pela poluição dos navios com os requisitos globais para combustíveis mais limpos.
Por isso, esta semana o Comitê de Proteção ao Ambiente Marítimo da IMO - Organização Marítima Internacional (agência Nações Unidas responsável pela segurança da navegação e a prevenção da poluição marítima por navios) avaliará uma lei que, se mantida, poderá salvar 200 mil vidas em todo o mundo até 2025. Trata-se da nova legislação dos combustíveis usados no transporte marítimo, segundo a qual o atual nível de enxofre, de 3,5%, deverá baixar para 0,5% em 2020.  Essa redução foi aprovada por unanimidade em 2008, porém a data de entrada em vigor ficou condicionada aos resultados de um estudo para determinar se haveria disponibilidade de combustível de baixo enxofre suficiente nessa época. Esse estudo, encomendado pela IMO e publicado em agosto passado, mostra que em todos os cenários e opções de sensibilidade considerada, haverá combustível limpo disponível e suficiente em 2020.  Apesar disso, a associação de petróleo e gás IPIECA, bem como de um grupo de empresas de transporte representado pela BIMCO, estão trabalhando para que a medida só entre em vigor em 2025. A diferença de cinco anos – entre 2020 e 2025 - é o que está em jogo na reunião do  Comitê de Proteção ao Ambiente Marítimo da Organização Marítima Internacional: ou seja, 200 mil vidas.
A implementação de combustíveis mais limpos em 2020 pode evitar 134.650 mortes prematuras na Ásia, 32.100 na África e 20.800 na América Latina.  "A entrada em vigor dessa medida da IMO em 2020 poderia reduzir a pressão sobre a saúde das comunidades costeiras, particularmente na Ásia, África e América Latina. O inverso também é verdadeiro. O atraso asseguraria que os impactos na saúde oriundos das emissões de enxofre  persistirão nas comunidades costeiras que estão expostas, onde o tráfego de navios é mais intenso e onde as comunidades mais densamente povoadas", explica o Prof. James Corbett, da Universidade de Delaware, um dos principais autores do estudo.  O que é pior, o atraso afetaria desproporcionadamente muitos dos países mais pobres do mundo: o estudo mostra que a redução nas emissões dos transportes marítimos salvaria mais vidas nas comunidades costeiras dos países mais pobres da Ásia-Pacífico, América Latina, África e Oriente Médio, que estão localizados perto de grandes rotas. A implementação mais cedo também reduziria o peso sobre os gastos com saúde em nações que dificilmente se beneficiam do comércio global.
Representantes das refinarias e de uma parte da indústria de transporte argumentam que a aplicação da decisão em 2020 terá profundas implicações econômicas. Eles alegam que a decisão será impacto altamente significativo já que o custo do combustível compatível com baixo teor de enxofre recomendado poderá ser mais de 50% maior do que o custo do combustível usado atualmente.  O autor da pesquisa, James Corbett, explica que o custo adicional estimado para a indústria naval, de aproximadamente US $ 30 bilhões / ano, é de cinco a 25 vezes menor do que o efeito positivo sobre os gastos com saúde  que beneficiariam a economia global, de acordo com estudos e relatórios anteriores.  Ele lembra ainda que estes custos se tornam insignificantes sobre o preço final dos produtos - por exemplo, o custo adicional para enviar uma banana ou um par de sapatos é muito menos do que um centavo de dólar.
Bill Hemmings, diretor de transportes da Transport & Environment, explica: "Tanto o estudo sobre saúde como o estudo sobre combustíveis limpos deixam claro que a data de 2020 deve ser respeitada. Os setores do transporte marítimo e das refinarias já tiveram oito anos para se preparar e ainda há mais de três anos antes da implementação final em 2020. Não há mais desculpas para a inércia mortal".

Fonte: Rita Silva – AViV Comunicação

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