Pesquisas internacionais
apontam os policiais como um grupo de risco com relação ao suicídio.
Inúmeras razões ajudam a
explicar essa exposição, uma delas é a facilidade de acesso às armas de fogo.
Em
julho de 2014, o blog de Claudio Tognolli - Yahoo - Notícias foi o primeiro a
denunciar a massiva onda de suicídio de policiais federais:
Agora
publicamos ensaio fresquinho feito pelo Grupo Mudamos e pela Fenapef, a
federação dos policiais federais: confiram que a barbaridade continua dois anos
depois…
No
Brasil, na década de 2000, mais de um milhão e meio de pessoas morreram por
acidentes, homicídios e suicídios (mortes violentas). No período de 2000 a
2012, 1.703.499 brasileiros foram vítimas de mortes violentas, sendo 112.506
“lesões autoprovocadas voluntariamente”, em outras palavras, mortes por
suicídio. O suicídio ainda é um tabu para a população brasileira, apesar do seu
crescimento continuo. Pouco se conhece, muito pouco se discute.
Pesquisas
internacionais, apontam os policiais como um grupo de risco com relação ao
suicídio, ou seja, estão mais expostos ao fenômeno do que a população em geral.
Inúmeras razões ajudam a explicar essa exposição, uma delas é a facilidade de
acesso às armas de fogo. Somam-se a isso, questões laborais como jornadas de
trabalho intensas e estressantes, além de uma cultura policial fortemente
hierarquizada.
A
pesquisa que realizamos na Polícia Militar do Rio de Janeiro revelou que na
PMERJ o diferencial das taxas de suicídio de policiais e da população é
expressivo. O risco de morte por suicídio entre profissionais de segurança da
Polícia Militar do estado do Rio de Janeiro em 2009 foi 6 vezes superior ao da
população geral. Outros estudos também vêm discutindo o suicídio em forças
policiais. Em 2013, a Revista Isto É publicou uma reportagem especial sobre os
suicídios na Polícia Federal. No ano de 2011, foram registrados 12 casos de
suicídios na PF. A Polícia Federal contava um efetivo de aproximadamente 13 mil
policiais neste ano.
Nos
últimos cinco anos, já se registram 24 casos. De acordo com levantamento feito
pela Federação Nacional dos Policiais Federais, em 2015, se a Polícia Federal
fosse um país, considerando o mesmo grupo de 100 mil habitantes, assumiria a 7ª
colocação em casos de suicídios (dentre os servidores ativos), com 27,02% de
ocorrências, uma média de quatro registros por ano.
Um
estudo sobre a Polícia Militar do Estado de São Paulo (PMESP) registrou 59
casos de suicídios consumados e 86 tentativas de suicídio em sua corporação,
somente no período de 2010 a 2012. Seu efetivo era de 91.766 policiais
militares na ‘época. Quando pesquisados na internet, somente foram encontrados
7 desse total de 59 casos. Essa defasagem também é verificada nos casos da
Polícia Federal.
Segundo integrantes da categoria, nos últimos dez anos houve 6 casos de suicídios de guardas portuários do Porto de Santos, sendo 1 caso em serviço e 6 casos fora, sendo que um deles aconteceu alguns meses após o desligamento - Leia também:
Podemos
explicar essa invisibilidade por dois possíveis fatores. O primeiro pelo
clássico Efeito Werther – “Quando os suicídios aumentam” devido a mídia e a
exposição sensacionalista. David Phillips chamou de “Efeito Werther”,
referindo-se ao personagem da obra homônima de Goethe, publicada em 1774, em
que o protagonista se suicida por conta de um amor frustrado. Desde então, suspeita-se
que a exposição de casos de suicídio na mídia venha provocar uma histeria
social, seja pela existência de uma carta suicida denúncia, seja pela
ocorrência de homicídio seguido de suicídio, seja pela indignação dos
familiares e colegas pela perda de alguém estimado.
A
segunda chave explicativa deste tabu em torno das mortes por suicídio entre
policiais são questões socioculturais e políticas. Estudos internacionais
esclarecem que uma das razões da invisibilidade do fenômeno deve-se à cultura
hierárquica e autoritária da polícia.
Embora
o suicídio entre os profissionais de segurança permaneça invisível aos olhos
dos gestores públicos e da população brasileira, o sofrimento psíquico e
emocional de policiais tem ocupado cada vez mais espaço no debate público e na
mídia. Esse é mais um desafio a ser enfrentado pelos nossos executivos estadual
e federal e chefes de Polícia a médio e a longo prazo.
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