Codeba é responsável
pela gestão dos portos públicos na Bahia.
Decisões judiciais geram
distorções. Empresa, controlada pelo governo federal, admite valores fora da
realidade dos portos públicos na Bahia.
A
crise econômica que aflige o Brasil deve estar passando longe de um seleto
grupo de trabalhadores da Companhia das Docas da Bahia (Codeba), empresa
federal que é responsável pela gestão dos portos públicos na Bahia.
No
intervalo de 12 meses, entre agosto de 2014 e julho de 2015, foram realizados
101 pagamentos com valores superiores ao salário mensal da presidente da
República, Dilma Rousseff, de R$ 30,9 mil, de acordo com dados do Portal da
Transparência, levantados com exclusividade por esta coluna.
Sete
funcionários – um diretor, quatro profissionais com nível superior e dois com
nível técnico – ganharam mais que o presidente da empresa, José Muniz Rebouças,
cujo vencimento médio é de R$ 22 mil.
Por
duas vezes, os pagamentos ultrapassaram os R$ 100 mil. Foram R$ 111 mil para um
profissional de nível superior, em novembro de 2014, e R$ 110 mil para um técnico,
no último mês de maio.
A
empresa pública gasta por mês em torno de R$ 2 milhões com o pagamento da folha
dos 260 empregados – 25%, R$ 500 mil, aproximadamente, ficam com os 20 maiores
salários. Além de estar fora da
realidade dos salários pagos ao trabalhador brasileiro, os supersalários da
Codeba – inflados por adicionais que chegam a representar mais de 50 vezes o
salário-base – destoam dos que são pagos a outros em mesma função na empresa.
O
vencimento total de um analista portuário, por exemplo, variou entre R$ 22,2
mil e R$ 3,5 mil em julho deste ano. Não há nada de ilegal no pagamento dos
valores acima. A Codeba é uma empresa de capital misto e, por isso, está livre
do teto constitucional do funcionalismo público, correspondente ao salário de
um ministro do Supremo Tribunal Federal (STF), de R$ 33,7 mil. Mas está certo
pagar R$ 32 mil, em média, para o responsável por um armazém? Ou R$ 20 mil para
um guarda?
Como se cria um
supersalário
Os
contracheques da Codeba foram engordando no decorrer das últimas décadas,
graças a decisões judiciais das décadas de 60 para cá. Em nota emitida pela
assessoria de imprensa, a atual administração da empresa reconhece “vencimentos
e indenizações a alguns funcionários, cujos valores não condizem com o padrão
do setor público, mesmo em empresas e autarquias”.
Diz
ainda que vem tomando providências, como a reestruturação da Gerência Jurídica,
para acompanhar melhor processos jurídicos. Essas ações teriam estancado as
derrotas na Justiça, mas o passivo já tinha sido criado. Reservadamente,
comenta-se que 500 das aproximadamente 700 ações judiciais impetradas por
funcionários foram decididas pela Justiça à revelia. Ou seja, a representação
da Codeba nem aparecia nos tribunais.
O lado do trabalhador
Segundo
o diretor do Sindicato Unificado dos Portuários do Estado da Bahia (Suport-BA),
Ulisses Oliveira Junior, boa parte das ações aconteceu com o apoio da entidade
sindical, cujo papel é mesmo de defender os interesses dos trabalhadores.
“Esse
é o nosso papel”, pondera. Ele ressalta que os acréscimos foram ganhos após
decisões judiciais. “Todos os processos foram até o TST (Tribunal Superior do
Trabalho), onde obtivemos decisões favoráveis”, diz. É de fato o que se espera
de um sindicato. Talvez, tenha faltado à Codeba, lá atrás, fazer o que se
espera de um patrão.
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