Apesar
do rompimento declarado do presidente da Câmara dos Deputados, Eduardo Cunha
(PMDB-RJ), com a presidente Dilma Rousseff e o governo federal, a bancada
pemedebista na Casa pode arrematar um dos cargos mais cobiçados do segundo
escalão: o controle do Porto de Santos, por meio da presidência da Companhia
Docas de São Paulo (Codesp), hoje sob o comando de um técnico. No âmbito da
partilha de cargos entre aliados, a bancada pleiteou as presidências das sete
Companhias Docas, e já foi contemplada com a do Rio de Janeiro. O controle das
Docas do Ceará, Pará e Espírito Santo caberá ao PMDB do Senado.
O
Valor apurou, com fontes do Palácio do Planalto, que o líder do PMDB na Câmara,
Leonardo Picciani (RJ), um dos mais próximos ao presidente Eduardo Cunha,
encaminhou um ofício, em nome da bancada, requerendo a prerrogativa de indicar
os diretores-presidentes das sete Companhias Docas, que são vinculadas à
Secretaria Especial de Portos. A pasta é comandada pelo ministro Edinho Araújo,
deputado federal reeleito pelo PMDB de São Paulo.
A
bancada foi contemplada com a presidência das Docas do Rio de Janeiro, reduto
eleitoral de Picciani e Eduardo Cunha. O novo presidente, Alexandre Gadelha,
responde pelos portos do Rio, de Niterói, Angra dos Reis e Itaguaí.
Já
a Codesp, cujo comando ainda está em disputa, detém o controle do Porto de
Santos, o maior da América Latina. Seu comando pode sair de um técnico para um
nome político: o atual presidente, Angelino Caputo, é da carreira do Banco do
Brasil. A movimentação de cargas no porto atingiu 35,8 milhões de toneladas até
abril e o valor movimentado no período foi de US$ 32,6 bilhões, 25% da corrente
de comércio.
Picciani
disse ao Valor que a bancada requereu apenas a prerrogativa de nomear os
dirigentes das Docas do Pará, Ceará e Rio de Janeiro, porque a indicação para a
Docas de São Paulo caberia ao vice-presidente Michel Temer, em nome do PMDB
paulistano. A assessoria de Temer afirma, entretanto, que o vice-presidente
"não fará nenhuma nomeação para cargos".
Nos
bastidores, a disputa pela nomeação do novo presidente das Docas de São Paulo
ainda está em curso. Não está descartado que o PMDB da Câmara seja contemplado
com o cargo, já que o deputado José Priante (PMDB-PA) perdeu a queda de braço
para indicar o dirigente da companhia paraense para o senador Jader Barbalho
(PMDB-PA). "Pode ser uma compensação, já que as Docas do Pará foram para o
PMDB do Senado", diz uma fonte palaciana.
A
bancada pemedebista do Senado venceu até agora os embates internos pelas docas,
numa demonstração de que o palácio investe na reaproximação do presidente do
Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), numa tentativa de aliviar a crise política.
A ideia é apostar em Renan como contrapeso à ofensiva liderada por Cunha na
Câmara.
A
senadora Rose de Freitas (PMDB-ES), que preside a Comissão Mista de Orçamento -
responsável pelo julgamento das contas do governo, inclusive das
"pedaladas fiscais", depois que passarem pelo Tribunal de Contas da
União (TCU) - deve emplacar a nomeação para o presidente das Docas do Espírito
Santo, que controlam os portos de Vitória e Barra do Riacho. O líder do PMDB no
Senado, Eunício Oliveira (CE), é responsável pela indicação de César Augusto
Pinheiro para a presidência das Docas do Ceará. Jader Barbalho pela nomeação de
Parcival de Jesus Pontes para as Docas paraenses.
Picciani
não atribui as vitórias do PMDB do Senado na disputa pelas docas ao rompimento
de Cunha com o governo. "Essas nomeações foram decididas antes",
pontua. Mas sublinha que essa decisão conturba a relação do palácio com a
bancada. "O governo precisa ter clareza com as regras do jogo",
defende. As nomeações para os cargos passam pela Secretaria de Relações
Institucionais, Casa Civil e pela Secretaria de Portos. Ao final, os indicados
devem ser aprovados pelos conselhos de administração das companhias docas.
Fonte:
Valor Econômico/Andrea Jubé
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