Mais de 35 mil trabalhadores de 24 categorias de braços
cruzados, no final de março de 1980
Com
este título, livro reconta história do Porto de Santos abordando luta
trabalhista e a maior greve registrada em março de 1980.
Ferrovias
suspendem carregamentos, caminhões causam super congestionamento, operações de
mais de 40 navios são interrompidas, mais de 35 mil trabalhadores de 24
categorias de braços cruzados, piquetes sem ação, interventores preocupados com
desordens e ameaça eminente de tropas militares para estabelecer a ordem e retomar
as atividades.
Esse
era o Porto de Santos, no final de março de 1980. Tão inoperante, que nem os
pombos apareceram no cais para poder comer os grãos deixados nos trilhos durante
a passagem de uma composição de trens.
Não
por acaso, esse é o título do livro que reconta historicamente a luta
trabalhista da maior greve do cais santista de todos os tempos.
A
obra, que será lançada na terça-feira, ficou a cargo da historiadora Adriana
Gomes Santos e do pesquisador Antônio Fernandes Neto. Eles recuperaram, por
meio de documentos, depoimentos e reportagens da época - entre elas do Jornal A
Tribuna - todo o contexto político e social, a partir de 1964, quando houve o
Golpe de Estado, até duas décadas depois.
Importância
Os
bastidores das fracassadas negociações entre os trabalhadores portuários e a
então Companhia Docas de Santos (CDS), que mais tarde mudaria de nome ao abrir
o capital para também pertencer à União, e a interferência do regime militar no
cais santista são os principais fatos escolhidos e pesquisados para recontar um
pedaço da história na região.
“A
greve de 1980 é mais importante para o Brasil do para o próprio Porto de
Santos”, afirma Neto, um dos escritores do livro, publicado pela editora
Veneta. De acordo com ele, o desequilíbrio do cenário político fez com que, a
exemplo do que ocorreu aqui, outros lugares, posteriormente, registrassem movimentos
semelhantes.
O
pesquisador lembra que a insatisfação era geral, não só entre aqueles que atuavam
no cais santista. “Os debaixo não aceitavam mais serem governados como antes e
os de cima não tinham mais força para governar”, afirma.
Prova
disso foi a assembleia realizada para organizar uma possível paralisação, em
março daquele ano.
Surpresa
Navio Raul Soares
Os
800 previstos se transformaram rapidamente em 4 mil no auditório do Sindicato
dos Trabalhadores Administrativos do Porto de Santos (Sindaport), localizado na
Rua Júlio Conceição. O encontro reuniu também outras categorias que atuavam no
cais para negociar e tentar reverter o quadro trabalhista. Para Neto, os desdobramentos
surpreenderam.
O
livro revela que a Companhia Docas de Santos, então propriedade privada, foi a
principal delatora das ações orquestrada pelos trabalhadores. “O Governo sabia,
por meio da Guarda Portuária, os
envolvidos e quem estava ligado ao que. Por isso, a Docas está entre as
empresas mais repressoras da época”, afirma o pesquisador.
Não
por acaso, o ex-presidente do Sindaport, Waldemar Neves Guerra, foi detido e
levado para o navio-prisão Raúl Soares. “A embarcação foi utilizada para
humilhar e não punir”, conclui o autor, que contou com o apoio do sindicato
para realizar os trabalhos de pesquisa nos último anos e que surpreendeu até mesmo
os atuais diretores.
Resgate
Cirino, Neto e Nobel relembram a paralisação histórica dos
trabalhadores
O
aval para a obra foi dado pelo atual presidente, Everandy Cirino dos Santos,
que na época da greve, trabalhava como Guarda Portuário. “Ele nos surpreendeu
ao saber de fatos que até acreditávamos que nós sabíamos, pois estávamos do
outro lado”, afirma, ao ressaltar que a obra é um resgate histórico dos acontecimentos
na região.
Para
Cirino, o livro servirá para esclarecer lacunas na história e para evidenciar a
participação de órgãos utilizados pelo governo, como a própria Docas, para
monitorar os trabalhadores e as lutas sindicais.
“Os
autores assimilaram a luta trabalhista com o próprio desenvolvimento da Baixada
Santista. Servirá para fazer justiça”.
Protagonista de greve lembra
bastidores
O
protagonista da greve do Porto de Santos em 1980, o advogado Nobel Soares de
Oliveira, está no livro que será lançado na terça-feira. Ele é quem aparece em
destaque na capa de A Tribuna de 17 de março erguendo o braço e convocando os
trabalhadores para a paralisação, que durou exatos cinco dias e motivou a luta
pelo país.
“Eu
fui a oposição do sindicato. Depois que o regime militar já havia tirado os antigos
líderes do poder, tivemos que fazer um momento paralelo para fazer valer”,
conta, ao lembrar da assembleia que culminou na paralisação.
Apesar
da pressão contrária, ele fez a pergunta crucial e o cais santista parou a
partir dali.
Ao
final de uma semana, entretanto, o governo já havia cedido e entregue e
aceitado às reivindicações dos trabalhadores portuários.
Foi
quando, dias depois, Oliveira, um então fiel ajudante de armazém, foi
dispensado do serviço pela Companhia Docas de Santos. “Foi um choque, uma vez
que eles não poderiam fazer isso”.
Faltando
dois anos para o curso de direito, para enfim se tornar advogado, ele relutou e
tentou reaver o trabalho no Porto. Não conseguiu, pois foi delatado e punido
pelo regime. A história é narrada no livro.
“Hoje
espero justiça, apenas. Torço para que o Sindaport consiga me reenquadrar ao
cargo e consertar o passado”.
Serviço: O lançamento ocorre na próxima terça-feira no campus Dom Idílio José Soares da universidade Católica de Santos (UNISANTOS), localizado na avenida Conselheiro Nébias, 500. Os autores encontrarão o público em dois horários: Pela manhã, às 8 hs, e à noite, a partir das 19hs.
Autor:
José Claudio Rangel
Fonte: Jornal A Tribuna
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