Apesar
do Porto de Salvador, na Bahia, estar incluída na rota internacional do narcotráfico,
integrantes da Guarda Portuária trabalham desarmados, e ficam renegados a
própria sorte.
Os
guardas portuários sempre trabalharam com revólveres calibre 38, no entanto,
com o decorrer do tempo a documentação ficou vencida e as armas foram retiradas
de serviço nos três portos da Bahia (Salvador, Aratu e Ilhéus).
A
Companhia Docas da Bahia (CODEBA) realizou o primeiro para a Guarda Portuária em
2006. Em 2010 realizou outro concurso, no entanto, somente em 2011 e 2012 a
empresa adquiriu novos armamentos (PT-938 .380) os guardas portuários
realizaram o curso de tiro e os exames psicológicos, baseado na Portaria 613 do
Departamento de Polícia Federal. Após o curso elas foram guardadas no cofre da
empresa, onde permanecem até hoje.
Na Reunião da Diretoria Executiva da CODEBA (DEX), o Diretor Presidente, José
Muniz Rebouças deu conhecimento do Oficio nº 025-SFPC/6.4/EscT/ Cmdo 6" RM
autorizando a aquisição de munição para a Guarda Portuária, mas ressaltou que a
Polícia Federal ainda não liberou o porte de arma, o que inviabilizaria a
aquisição da munição. No entanto, segundo foi apurado pelo Portal Segurança
Portuária Em Foco, a Polícia Federal está com 27 portes de arma já prontos para
serem entregues
O
Diretor Presidente da Companhia não pretende distribuir as armas aos guardas,
mesmo depois do porte de arma ser liberado, e ainda, propôs a abertura de
processo para aquisição de arma não letal.
Hoje
a Guarda Portuária da Bahia trabalha apenas com tonfas e sem algemas, pois estas
ficam trancadas na sala dos inspetores.
A nova rota do narcotráfico
no Brasil
Maior parte da cocaína era colocada em malas simples e jogada em meio a commodities - Veja.com/VEJA
Conforme
matéria vinculada no site da Revista Veja, em abril, a Polícia Federal realizou
uma das mais bem-sucedidas operações de combate ao tráfico de drogas no país,
com a prisão de setenta pessoas que integravam um sofisticado esquema de
exportação de cocaína pelo Porto de Santos, no litoral de São Paulo. Batizada
de “Oversea”, a ação apreendeu 3,7 toneladas de cocaína, o equivalente a 10% de
todo o montante da droga capturado no ano passado no Brasil. Quatro quadrilhas
que despachavam cocaína em contêineres foram desmontadas, ao menos duas delas,
ligadas à facção criminosa “Primeiro Comando da Capital (PCC)”.
O
uso das fronteiras brasileiras como rota de escoamento da droga produzida
majoritariamente na Bolívia não é novidade para os órgãos de repressão ao
narcotráfico. Nos últimos anos o Brasil tem sido o principal corredor de
cocaína dos Andes para a Europa, segundo relatório da International Narcotics
Control Board (INCB), da Organização das Nações Unidas (ONU). “O Brasil, com suas
extensas fronteiras terrestres com todos os três principais países produtores
de cocaína e um litoral extenso, além de ser um país de destino para grandes
quantidades de cocaína, também oferece fácil acesso ao oceano Atlântico para
exportar drogas para a África Ocidental e Central e de lá seguir para a Europa
e outros países”, diz o relatório da entidade.
No
início de abril, o site de VEJA mostrou detalhes de como toneladas de cocaína
saem do Brasil escondidas em navios. Os desdobramentos da investigação revelam
que os traficantes tentaram reproduzir o modelo de embarque usado no litoral
paulista em outros Estados: o Porto de Salvador, na Bahia, foi usado para
despachar 200 quilos de cocaína para a Europa em novembro do ano passado, e os
policiais investigam a montagem de um esquema similar, em Itajaí e Navegantes
(SC). Foragido após a força-tarefa da PF, o traficante Gilmar Flores, o Peres,
foi preso em solo catarinense.
Rodrigo, João e Angelo Marcos (da esquerda pra direita) da quadrilha que traficava em São Paulo e no Porto de Santos - Veja.com/VEJA
A
quadrilha responsável por embarcar cocaína na Bahia era liderada por João dos
Santos Rosa, o “Gold”, Rodrigo Gomes da Silva, o “Rita”, e Angelo Marcos Canuto
da Silva, o “Fusca”. Ex-policial militar, Canuto passou a agenciar jogadores de
futebol. O grupo de análise de interceptações telefônicas da PF mostrou como os
criminosos prepararam a logística: funcionários da zona portuária de Santos
foram levados para a capital baiana e hospedados em um hotel para receber a
droga, transportada em carros. "Maravilha em Salva [Salvador]. Já está
tudo guardado e seguro", afirmou Rosa para o comparsa Silva, por meio do
aplicativo BBM, até o fim de 2012 considerado à prova de rastreamento. Três
dias depois, Canuto viajou para Salvador para atestar a qualidade da droga.
Aparência do megatraficante boliviano Rolin Gonzalo Parada Gutierrez: em 2005 (à esq.) como alvo da PF na Operação Kolibra e em 2013, já na Oversea - Veja.com/VEJA
As
investigações apontaram que o fornecedor era o boliviano Rolin Gonzalo Parada
Gutierrez, conhecido como “Federi”. Os agentes da PF só conseguiram identificar
Federi porque trocaram informações com policiais do DEA (Drug Enforcement Administration),
dos Estados Unidos. Procurado pela Polícia Federal desde a Operação Kolibra, em
2005, ele cruzava a fronteira brasileira com documento em nome de Ivan Fabero
Menacho. Diversas mensagens interceptadas foram enviadas em espanhol. “Se Deus
quiser, vai dar certo porque eles estão entregando para o PCC duas toneladas
por mês de pasta-base. Ele me falou que combinou com o sócio de entregar pelo
menos 400 quilos daquela que você precisa”. Após os contatos por telefone, o
traficante Rosa viajou a Corumbá (MS) para fechar o negócio na fronteira com a
Bolívia.
Em
Santos, os traficantes brasileiros tinham o apoio de funcionários e prestadores
de serviço de empresas que operam os 47 Redex (recinto especial para despacho
aduaneiro de exportação), armazéns portuários privados fiscalizados pela
Receita Federal. A cocaína saía do Brasil escondida em contêineres que
transportam diariamente celulose, café, couro, carne e até suco de laranja – 2
milhões de contêineres passam pelo Porto de Santos anualmente. Uma das
peças-chaves no embarque era Adelson Silva dos Santos, funcionário do setor
comercial da empresa MSC. Preso em abril, ele indicava navios que seguiriam
para o destino de interesse dos criminosos. Procurada pelo site de VEJA, a MSC
limitou-se a dizer que está "à disposição das autoridades para auxílio
total nas investigações".
Malas com drogas foram localizadas quando contêineres foram abertos em terminal portuário de Santos
Por
quilo da droga embarcada, os funcionários do porto recebiam de 1.500 a 2.000
dólares. O pagamento era feito mediante o sucesso do embarque. A polícia ainda
investiga a participação de operadores dos scanners que teriam sido subornados.
“Do dia 20 em diante, o scan lá está na minha mão”, afirmou o traficante do PCC
André Oliveira Macedo, o André do Rap, foragido da polícia. As investigações
flagraram o criminoso numa tentativa frustrada de mandar 136 quilos de cocaína
para Las Palmas, nas Ilhas Canárias. Nesta tentativa, ele e outros dois
comparsas do PCC se associaram a uma quadrilha cujo líder se refugiava em Mogi
das Cruzes.
Eles pagaram 80.000 reais para o funcionário
de um terminal subornar agentes de fiscalização. Não há indícios de que
proprietários das empresas de logística portuária ou donos das cargas tinham
conhecimento do esquema criminoso.
Segundo
a polícia, os navios lotados de droga ancoraram na Holanda, Bélgica, Alemanha,
Espanha e Itália, além de uma remessa que partiu rumo ao México, mas foi retida
em Cuba. Na África, os destinos eram Angola e Egito. Os receptores recebiam
fotos pelo celular com a identificação dos contêineres, da guia de despacho do
navio e dos lacres da carga.
A
Operação "Oversea" foi deflagrada paralelamente à Operação
"Hulk", que prendeu traficantes e armamento pesado na capital
paulista. As investigações demoraram um ano, período em que agentes e escrivães
organizaram movimentos sindicais na PF. Elas não foram interrompidas porque eram
consideradas prioritárias.
Antes
focada no crime de tráfico internacional, a “Oversea” encontrou também indícios
dos caminhos usados pelos traficantes para lavar o dinheiro obtido na venda de
drogas: são dezenas de empresas de fachada e a participação de doleiros que
compensavam pagamentos destinados ao boliviano Rolin Gonzalo Parada Gutierrez,
que há quase uma década usa o Brasil como rota para despachar cocaína ao
exterior.
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