Defesa. Assessoria jurídica do Porto alega que
provas seguiram o edital
O concurso público do Porto de São Francisco
do Sul para guardas portuários, realizado entre abril e junho deste ano, está
sendo investigado pelo Ministério Público e está suspenso por uma liminar. A
promotora de Justiça de São Francisco, Andreia Favero, analisou mais de vinte
denúncias e moveu uma ação civil pública sobre as irregularidades em uma etapa
da seletiva para quarenta vagas de guarda portuário.
Em julho, o juiz da 2ª Vara Cível de São Francisco,
Fernando Seara Hickel, concedeu uma liminar suspendendo o concurso organizado
pelo IESES (Instituto de Estudos Superiores do Extremo Sul), empresa contratada
pelo porto. A seletiva que contou com 5.000 inscritos foi realizada em três
etapas: teste teórico, físico e psicológico.
Os problemas ocorreram na etapa das provas
físicas. Os candidatos reclamam da mudança do dia da prova e da maneira como
foi realizada a contagem dos pontos. A chuva atrapalhou a realização dos exercícios
na pista de atletismo da Univille, em Joinville, e a organização do concurso
decidiu dividir os testes em duas etapas. As mulheres executaram os exercícios
de barra, corrida e abdominal debaixo de chuva. A prova dos homens foi adiada
para o dia seguinte.
Na liminar, o juiz considerou que “é bem
possível que o desempenho das candidatas mulheres tenha sido comprometido em
razão do mau tempo”, e que “a marcação da prova para o dia seguinte prejudicou
os candidatos que não residem na cidade do local da prova”. Das 71 candidatas,
apenas uma foi aprovada.
Após a realização das provas das mulheres,
com o argumento que a chuva tinha engrossado, os funcionários do IESES adiaram
a prova dos homens. Os concorrentes tiveram que comparecer ao mesmo local no
dia seguinte para fazer os testes físicos.
O Porto de São Francisco do Sul e o IESES
estão montando a defesa para apresentar para o Ministério Público. A assessora
jurídica do Porto, advogada Nasira Maria, não deu detalhes sobre o caso, mas
afirmou que uma comissão do Porto organizou o concurso e que as provas seguiram
de acordo com o estabelecido pelo IESES. O instituto foi procurado pela
reportagem, mas não quis se pronunciar sobre o assunto. Na primeira semana de
setembro vence o prazo para que o instituto apresente defesa da liminar. “O
porto tem um prazo maior que o IESES, de mais cerca de um mês para apresentar a
defesa”, aponta Nasira.
Forma
de pontuação também é questionada
Concurso. Provas
físicas foram realizadas na pista de atletismo da Univille, em Joinville
Um item do edital que não deixa claro o
número de pontos que o candidato deve atingir também foi contestado. No
documento, o candidato é informado que são aptos aqueles “que obtiverem no
mínimo 50 pontos em todos os testes”, já na tabela, a pontuação mínima é para
cada exercício. Além disso, segundo a decisão do juiz, com base nas denúncias,
os exercícios não teriam sido demonstrados para os candidatos, como manda o
edital, e alguns teriam sido eliminados de forma arbitrária.
Enquanto o juiz não recebe a defesa para uma
decisão final, o porto segue com os vigias contratados por uma empresa terceirizada.
Mesmo com a apreciação da defesa, o juiz pode entender que existe a necessidade
de novo concurso e anular a aprovação de quem já estava nomeado para as vagas
de guarda portuário.
A representante do Sindicato dos
Trabalhadores do Serviço Público Estadual de Santa Catarina (SINTESPE), Josiane
Terezinha Bergling afirma que “neste caso os aprovados devem entrar com uma
ação contra o porto e cobrar as medidas necessárias por meio legal, pois já
estavam contando com a vaga”. A sindicalista não tinha conhecimento dessa
situação e não soube informar se o sindicato vai tomar alguma medida oficial em
favor dos candidatos do concurso, já aprovados.
Os guardas portuários são os responsáveis
pela entrada, saída, permanência e movimentação de pessoas, veículos, cargas e
mercadorias na área do porto, além da segurança e proteção das instalações e
apuração de ocorrências.
“Eu
me sinto humilhado”, diz concorrente que denunciou as irregularidades.
Reprovados. Erico
Roberto da Costa (E), Jean Michel (C) e Igor Alves contestam resultado
Para as pessoas que se sentiram prejudicadas
na etapa física do concurso de guarda portuário do Porto de São Francisco do
Sul, as irregularidades vão além das apontadas pelo Ministério Público. Teve de
tudo, a começar pela identificação das pessoas. Umas oitenta chegaram e
mostraram os documentos para os avaliadores e depois pegavam um número e
ficavam livres para fazer o que quisessem. Eu poderia sair e entrar do local da
prova e trocar o meu número com outra pessoa para que ela fizesse em meu lugar,
um professor de educação física talvez, conta Jean Michel, de 31 anos.
Erico Roberto da Costa, 36, afirma que se
sentiu desfavorecido na hora de fazer o exercício de barra. “Eu fiz sete barras
e contaram apenas quatro. O cara (avaliador) demorava em computar”, considera.
No momento dos testes alguns concorrentes chegaram a duvidar do
profissionalismo dos avaliadores. “Pedi para que um me mostrasse a carteirinha do
CREFI (Conselho Regional de Educação Física), mas eles se negaram”, conta
Michel. “Já participei de vários concursos, mas nunca vi uma coisa dessas”,
completa.
Para Costa, o concurso representou prejuízo
financeiro e moral. “Me sinto humilhado, eu me dediquei por mim e pela minha
família, paguei a inscrição (R$ 60,00) e fui tratado desta maneira”.
Concorrentes
que passaram discordam de reivindicações
Mesmo com intervenção jurídica, um grupo
formado por concorrentes que passaram no concurso negam que tenha ocorrido
irregularidades. “Tudo que aconteceu estava previsto no edital”, afirma Michell
Ribeiro Pereira, 33 anos. Em julho, quando ficou sabendo que estava entre os
quarenta selecionados para ser guarda portuário em São Francisco, Pereira
largou o emprego em Joinville. “Eu fiz isso pela certeza desse concurso e agora
vou viver Deus sabe como”, desabafa. Com o concurso suspenso e sendo
investigado, ele não tem nem previsão se vai de fato trabalhar no porto ou se
deve prestar o concurso novamente.
Na visão de outro concorrente que passou na
seletiva, Vanderlei Alves Vieira, 29, o Ministério Público não deveria ter
sinalizado uma decisão antes de ouvir o ponto de vista de quem está satisfeito
com a forma que correu o concurso. “A gente respeita quem se sentiu
prejudicado, mas me parece muito injusto ver o lado só de quem não passou”,
ressalta.
Alguns dos concorrentes que passaram na
seletiva se juntaram e fizeram um documento contestando a decisão do Ministério
Público. O manifesto foi levado até o Porto de São Francisco. Concorrentes
aprovados e correntes eliminados agora aguardam o próximo acontecimento do
impasse.
Fonte: Jornal Notícias do Dia / SC
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