Que
o Rappa é uma das grandes bandas do cenário pop/rock nacional não há nenhuma
dúvida. Fundada em 1993, no Rio de Janeiro, o grupo já vendeu entre álbuns de
estúdio e ao vivo, álbuns de vídeo, singles, ep's e etc., mais de 5 milhões de
cópias em todo o mundo.
Com
20 anos de história e um repertório recheado de letras que abordam as
injustiças sociais que acontecem cotidianamente no Brasil, o Rappa é uma das
bandas mais talentosas do mainstream tupiniquim, lotando ginásios, espaços e
casas de espetáculos a cada apresentação.
Até
aí tudo corriqueiro e muito natural para a trupe liderada pelo rastafári
Marcelo Falcão que, sem saber e de forma no mínimo inusitada, aumentou ainda
mais sua legião de fãs ao conquistar também a simpatia de um grupo de
empregados da Companhia Docas do Estado de São Paulo (Codesp).
A
admiração dos doqueiros teve início no último dia 27 de junho, quando o Rappa
trouxe para Santos o show da aclamada tour nacional Nunca Tem Fim, realizado no
Terminal Marítimo de Passageiros Giusfredo Santini, administrado pela operadora
portuária Concais S.A.
Principal
atração do Zero 13 Festival, a banda reuniu mais de 11 mil pessoas, segundo
estimativas da Polícia Militar, que foram brindadas com uma apresentação
considerada impecável pela crítica especializada, apesar dos problemas
decorrentes da realização em local e condições totalmente impróprios. E foi aí
que os portuários também se tornaram atrações mesmo sem subirem ao palco.
Autorizados
pela Codesp a trabalharem excepcionalmente em regime de dobra, os profissionais
da corporação foram os verdadeiros astros da noite ao fazerem uso de um simples
apito de trânsito seus instrumentos musicais. Com pulmão, virtuosismo e pegada
firme, a rapaziada garantiu com extrema habilidade e habitual competência o
mínimo de organização possível no sistema viário em torno do complexo
portuário, transformado grosseiramente no Circo Voador santista.
Além
disso, longe das caras e bocas e principalmente das entonações características
dos grandes "band leaders", os músicos da Codesp foram os verdadeiros
responsáveis pelos principais graves e agudos da noite para garantir a
segurança no fluxo de pessoas. De quebra, asseguraram ainda um ganho extra com
a "canja" improvisada, seguindo à risca a letra de "Pescador de
Ilusões", um dos clássicos do Rappa, que crava "valeu a pena".
Será?
Apesar
da memorável performance dos artistas, cariocas e santistas, o precário e pouco
eficiente sistema de infraestrutura existente no local, ressalte-se, para
eventos de tal natureza, ficou patente e foi um verdadeiro fiasco em termos de
organização e oferta de serviços ao público. Nesse sentido, as críticas foram
muitas conforme matéria publicada no periódico A Tribuna dois dias após a
realização do show.
Para
o presidente do Sindaport, Everandy Cirino dos Santos, a direção da estatal
precisa rever o aditamento contratual que autoriza a realização de diversos
eventos no local. "Não só a Codesp, mas a Secretaria de Portos (SEP) e o
próprio Tribunal de Contas da União (TCU) devem rever o documento firmado pelo
ex-presidente José Roberto Serra com a direção da Concais".
De
acordo com o dirigente, a Autoridade Portuária também agiu em desacordo com
suas próprias deliberações. "Se a dobra foi liberada para um show de rock
em pleno Porto de Santos, sob condições adversas em meio a um pesado trânsito
de caminhões e composições férreas, também deve ser na vida cotidiana da
empresa, principalmente em determinados setores considerados essenciais".
Na
avaliação do sindicalista, os guardas portuários da Codesp foram os verdadeiros
astros da noite e principais responsáveis para que o show não se transformasse
em mais uma trágica experiência, a exemplo do que aconteceu naquele fatídico
novembro de 1997, quando 8 jovens perderam a vida (7 por asfixia e 1 por
traumatismo craniano) em um show dos Raimundos, no Clube de Regatas Santista.
Outros 80 ficaram feridos.
Cirino
alerta para o fato de o terminal portuário receber um público duas vezes maior
do que o ginásio do extinto "Azulão" da Ponta da Praia. "Apenas para refrescar a memória dos
responsáveis e organizadores do show do Rappa, inclusive os administradores da
Codesp e da Concais, na triste noite dos Raimundos cerca de cinco mil
adolescentes lotaram o ginásio do Regatas, ou seja, menos da metade num espaço
que era infinitamente maior".
Considerado
um dos maiores clubes da Baixada Santista, o Regatas aliava o charme e a beleza
de sua suntuosa sede com as diversas dependências para a prática esportiva bem
como o vistoso e imponente ginásio, que além de jogos também recebeu grandes
atrações, nacionais e internacionais, tais como Elis Regina e os lendários
Harlem Globetrotter, entre outros. Mesmo assim, foi palco de uma noite que
marcou de forma negativa a história cultural da cidade. Ao que parece, a
tragédia de Santa Maria (RS) também já caiu no esquecimento.
Apesar
das críticas, o mandatário do Sindaport garante não será contra qualquer
iniciativa de caráter cultural. "Desde que seja feita com responsabilidade
e organização, sobretudo em locais adequados e não na faixa primária do cais,
até porque porto é lugar de navios". As irregularidades verificadas na
noite do último dia 27 serão levadas ao conhecimento do Ministério Público, da
Casa Civil, da SEP, e demais órgãos competentes, garantiu Cirino.
Para
o sindicalista, ao permitir a alteração no contrato original firmado com a
operadora, a Codesp abriu um "perigoso" precedente. "Daqui a
pouco as demais empresas vão querer aditar seus respectivos contratos para
poderem atuar em outras atividades na vacância de navios, e aí o maior porto do
país vai se transformar num grande show, não de música, mas de horrores",
concluiu.
Mesmo
na qualidade de coadjuvantes, os guardas portuários estiveram à altura de
Xandão (guitarras), Lauro Farias (baixo), Felipe Boquinha (bateria), Falcão
(vocal) e DJ Negralha. Com um repertório variado que navegou nos ritmos e
estilos vindos do reggae, funk, hip hop, MPB, grooves dub, rap, samba-rock, e
rock and roll, a galera da Rodrigo Silva mandou bem. Showzaço.
Fonte:
Ass.Com. Sindaport / Denise Campos De Giulio
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