Investigações
da Polícia Federal (PF) e do Ministério Público Federal (MPF) expuseram as
relações de uma das mais poderosas organizações criminosas do mundo, a
'Ndrangueta [Andrângueta], com grupos criminosos locais. Entre especialistas em
segurança, a presença de pessoas ligadas à máfia italiana em território
brasileiro já é discutida há anos, mas as menções à organização criada na
Calábria ganharam as páginas policiais depois que a PF deflagrou, em março
deste ano, a Operação Monte Pollino, que desarticulou um esquema de envio de
cocaína sul-americana para a Europa.
Na
quarta-feira (21), o Ministério Público Federal (MPF) denunciou seis pessoas
investigadas por supostamente integrarem uma quadrilha que usava o Porto de
Santos, o maior da América Latina, para enviar toneladas da droga para a
Europa.
Convencidos
de que todos os investigados na Operação Monte Pollino “integram uma ampla rede
criminosa, com ramificações em diversos países e ligações com a máfia italiana
'Ndrangueta”, procuradores da República em Santos já anunciaram que vão
denunciar pelo menos outras 14 pessoas.
Segundo
o instituto italiano Demoskopika, a máfia calabresa, também conhecida como
Família Montalbano, movimentou cerca de 53 milhões de euros em 2013. O
instituto garante ter chegado a essa cifra a partir dos dados de documentos
oficiais a que teve acesso. O montante é quase o mesmo que a rede de
lanchonetes McDonald's e do Deutsche Bank movimentaram, juntos, no ano passado.
A
maior fonte de renda da organização calabresa seria o tráfico de drogas, com o
qual obteve 24,2 bilhões de euros. Os tentáculos da ´Ndrangueta, contudo, se
estendem para a reciclagem ilegal, extorsão, desvio de recursos públicos, jogos
de azar, venda de armas, prostituição, falsificação de documentos e imigração
clandestina. Ainda de acordo com o instituto, a ´Ndrangueta conta com cerca de
60 mil associados que atuam em pelo menos 30 países. De acordo com a crônica
especializada, há tempos a ´Ndrangueta sobrepujou em poder econômico e
capilaridade as mais conhecidas Cosa Nostra e a Camorra.
Ao
deflagrar a Operação Monte Pollino, em março, o delegado federal Osvaldo
Scalezi Júnior revelou que as investigações brasileiras começaram em fevereiro
de 2013, a pedido da Itália, que já apurava o envio de cocaína do Peru e da
Bolívia para a Europa desde 2010. No mesmo dia em que, no Brasil, cerca de 70
policiais federais saiam às ruas para cumprir os mandados de prisão e de busca
e apreensão, na Itália a Guarda de Finança deflagrou a Operação Bongustaio. Em
um grande esquema de cooperação internacional, também foram cumpridos mandados
na Espanha, em Portugal, no Reino Unido, na Holanda, na Sérvia, em Montenegro e
no Peru.
No
total, foram detidas 12 pessoas, sendo dez no Brasil, uma na Itália e uma na
Espanha. Além disso, outras seis pessoas já tinham sido presas antes no Brasil.
Ao longo de um ano de investigação, foram apreendidos mais de 1,3 tonelada da
droga negociada pelo grupo. Os principais destinos da cocaína apreendida eram os
portos de Gioia Tauro, em Nápoles, na Itália, e de Porto de Leixões, em
Portugal, onde, em outubro de 2012, foram apreendidos 330 quilos de cocaína.
Grandes quantidades do entorpecente também foram apreendidas ao longo das
investigações em portos da Espanha, Alemanha e da Bélgica. Segundo estimativas
da polícia italiana, só o valor do volume apreendido pode chegar a 10 milhões
de euros.
A
cocaína era trazida ao Brasil por terra e armazenada principalmente na região
de Campinas, no interior paulista. Em Santos, era embarcada em navios de carga
com a colaboração de ao menos dois funcionários terceirizados corrompidos pelos
suspeitos de fazer a cocaína chegar a Europa. O destinatário do produto era a
´Ndrangueta. Depois que a droga chegava aos portos europeus e era recolhida,
representantes do braço financeiro da máfia calabresa que vinham frequentemente
ou moravam no Brasil se encarregavam de pagar os integrantes dos grupos
criminosos, sobretudo brasileiros, que adquiriam a cocaína pura, transportavam
até os portos brasileiros e a acondicionavam nos contêineres. O dinheiro
costumava ser entregue em lugares movimentados, como praças de alimentação de
shoppings e hipermercados da capital paulista.
Entre
as pessoas presas em março está uma brasileira detida na Espanha. Segundo
Scalezi, era ela a principal responsável por enviar ao Brasil os dólares com
que a ´Ndrangueta pagava os intermediários do esquema. “A brasileira presa na
Espanha é a principal responsável pelo braço financeiro da organização
calabresa”, disse Scalezi em março. De acordo com o delegado federal, a
brasileira foi identificada e detida graças a troca de informações entre Brasil
e Itália e a cooperação internacional. Ainda segundo Scalezi, após o início das
diligências e das primeiras apreensões, os criminosos passaram a operar em
outros portos brasileiros.
Na
quinta-feira (22), ao ser questionado sobre o que o governo brasileiro vem
fazendo para coibir a atuação de organizações criminosas internacionais em
geral e da ´Ndrangueta em particular, o ministro da Justiça, José Eduardo
Cardozo, disse não poder comentar o assunto. “A PF tem um trabalho intenso de
cooperação e troca de informações com policias do mundo inteiro. Há muitas
linhas de investigação em curso, mas eu jamais poderia dizer o que está ou não
está sendo investigado. Primeiro porque é sigiloso. Segundo porque seria um
erro colossal, pois nunca se diz o que está investigando".
Fonte:
Agência Brasil
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