O
Primeiro Comando da Capital (PCC) participava de um esquema de envio de cocaína
para a Europa, a África e a América Central pelo Porto de Santos, segundo
investigação da Polícia Federal. É a primeira vez que há provas de ligação da
facção criminosa com o tráfico intercontinental de drogas.
As
Operações Hulk e Oversea, iniciadas no ano passado e deflagradas na última
segunda-feira (31) na capital e na Baixada Santista, resultaram na prisão de 23
suspeitos - 13 estão foragidos. Foram expedidos também 80 mandados de busca.
Segundo
os delegados Reinaldo Sperandio e Ivo Roberto, responsáveis pela divulgação da
operação, as investigações começaram em maio de 2013. "Não havia
facilitação. Eles tinham um esquema. De qualquer forma, nossa investigação
apontou que não havia participação dos funcionários dos terminais portuários no
esquema", explica Sperandio.
A
Polícia Federal já monitorava a quadrilha desde o ano passado e durante todo
este período já foram apreendidos dez veículos, uma embarcação, 19 pistolas e
dois fuzis.
A
droga era trazida da Bolívia pela fronteira com o Paraguai, atravessava São
Paulo e chegava à Baixada. Do Porto de Santos, a droga partia principalmente
para a Espanha, a África e até para Cuba em navios sem o conhecimento dos responsáveis
pelas embarcações.
Segundo
as investigações da PF, havia a articulação de diversas células criminosas para
executar o plano de transporte da cocaína. Os homens do PCC ficavam
encarregados do processo final no porto. Cabia a eles encontrar os navios que
atendessem às necessidades da quadrilha, como destino, e infiltrar criminosos
nos barcos para fazer o carregamento da cocaína.
O
relato da PF sobre a quadrilha, enviado à Justiça, que resultou na expedição
dos mandados de busca e apreensão e de prisão, informa que André Oliveira Macedo, ou André do Rap, de 37 anos, e seu comparsa Jefferson Moreira da Silva, o Dente, de
36, davam ordens para seus subordinados do PCC cooptarem funcionários que
atuavam em Recintos Alfandegários de Exportação (Redex) para descobrir navios
propícios para o transporte da droga e facilitar a entrada de traficantes.
André
do Rap é apontado como líder da facção na Baixada - encarregado de tarefas de
ponta, como a coleta da "rifa" (contribuições dos integrantes do PCC)
e o fornecimento de armas de fogo a parceiros. Ele e Dente estão foragidos.
Ambos estão com prisão temporária decretada pela Justiça Federal.
A
PF fez buscas por André do Rap em seu apartamento no Guarujá, cidade vizinha a
Santos, mas não conseguiu localizá-lo. Ele é apontado como líder do PCC na
Baixada Santista, com ligação aos traficantes da zona noroeste de Santos e com o
Morro da Nova Cintra. Policiais federais seguem pistas de que ele teria fugido
para o nordeste do País. Dente, por sua vez, seria o braço direito de André,
responsável por executar serviços como a cobrança da "rifa" (a contribuição
exigida pela facção a seus associados) e emprestar armas a terceiros na
baixada.
A
lista de procurados traz ainda outro apontado como subordinado de André do Rap.
É Wagner Vicente Liro, de 30 anos,
vulgo Bafinho, que já esteve preso por tráfico de drogas. Há ainda um
boliviano, Rolin Gonzalo Parada
Gutierrez, o Federi, que seria um dos fornecedores de cocaína ao esquema, e
um português, Carlos Miguel Castro Silva.
Da fronteira
O
esquema começava na fronteira do Paraguai. Um dos acusados presos na operação, João dos Santos Rosa, coordenava a
compra da cocaína com os países vizinhos, por intermédio de Raimundo Carlos Trindade, preso em
julho do ano passado com 503 quilos de cocaína.
Eles
integravam a célula que incluía o boliviano Rolin Gonzalo Parada Gutierrez, vulgo Federi, também foragido e
tido como o principal fornecedor da cocaína ao esquema. Outros integrantes das
células tinham contato com compradores na Espanha e em outros países.
Depois
que esse grupo fez a aliança com o PCC da Baixada, a rota para o tráfico internacional
foi estabelecida.
A
cocaína, considerada pura, era colocada em sacolas ou mochilas, que eram
inseridas em contêineres por funcionários dos Redex. Há 47 Redex registrados em
Santos. Um grupo entrava nos recintos e, após inserir as mochilas nos
contêineres, usava lacres falsos.
Quando
o contêiner chegava ao destino, traficantes abriam-no para tirar as mochilas e
colocavam um lacre clonado na tranca – para evitar que a violação fosse
identificada por autoridades portuárias locais.
Investigação
A
PF suspeita que a célula que atuava entre o Paraguai e a capital tenha sido
responsável por um intenso tiroteio contra policiais federais, em setembro do
ano passado, na Rodovia SP-255, em Bocaina, em que um agente foi morto com um
tiro de fuzil. Na ocasião, a PF já investigava o grupo.
No
ano passado, um relatório do JIFE (Junta Internacional de Fiscalização de
Entorpecentes) – órgão internacional independente criado para fiscalizar a
implementação de tratados sobre drogas firmados no âmbito da ONU – colocou o
Brasil como um dos principais entrepostos da rota de tráfico de cocaína da
América do Sul para a Europa.
PF
divulga foragidos
A
Polícia Federal divulgou fotos de dez homens que estão sendo procurados por
tráfico internacional de drogas. Eles são considerados foragidos e fazem parte
de quadrilhas que utilizam como rota o Porto de Santos, no litoral de São
Paulo, para exportar cocaína.
O
objetivo da Polícia Federal é cumprir todos os 46 mandados de prisão e 80
mandados de busca e apreensão estipulados no início da operação. Outros 13
nomes ainda deverão ser divulgados nos próximos dias.
Veja a lista dos integrantes
foragidos da quadrilha:
-
Diogo de Souza Marques (Lost), de 32 anos
- Gilcimar de Abreu (Poocker), de 29 anos
- Luciano Pereira (Zé), de 28 anos
- Wagner Vicente de Liro (Bafinho), 30 anos.
- Carlos Miguel Pina de Castro e Silva
(Português), idade não divulgada.
- Gilmar Flores (Xira), idade não divulgada.
- Ednilson Rodrigues Caires (Black), 42 anos
- Márcio Henrique Santos (Messi), 30 anos
- André Oliveira Macedo (André do Rap), 36
anos
- Rolin Gonzalo Gutierrez (Ivan Fabero
Menacho), idade não divulgada.
A
Polícia Federal agora se vê diante de um novo desafio: identificar quem seriam
os compradores dessa droga no atacado e se as quadrilhas brasileiras têm
conexões com facções internacionais, como a máfia italiana ou bandos
portugueses e espanhóis. Para chegar a essas informações, os agentes
brasileiros contam com a colaboração de policiais de outros países para onde a
droga foi levada como Espanha, Itália, Portugal, Cuba e África do Sul.
Era
um tráfico “formiguinha”, já que, raramente, a quantidade de cocaína colocada
dentro de cada contêiner passava de 100 quilos - um contêiner comporta em média
20 toneladas de produtos. Para não levantar suspeita, os criminosos rompiam o
lacre do contêiner e o substituíam por um lacre clone (igual ao que havia sido
rompido). Junto com a mochila com a droga, havia outro lacre clone para ser
usado quando a droga chegasse ao seu destino. Isso porque a droga era retirada
do navio antes que a carga legal fosse desembarcada.
De
acordo com a polícia, a droga apreendida em Santos era produzida na Bolívia e
entrava no Brasil pela fronteira seca com os Estados de Mato Grosso e Mato
Grosso do Sul (às vezes passando pelo Paraguai) e por meio de rodovias seguia
até a região da Grande São Paulo, onde era estocada. Quando algum chefe do
bando ordenava, a droga era levada para Santos, de onde partia para as rotas
internacionais. Um dos portos onde a cocaína desembarcou antes de seguir para o
continente europeu foi um das Ilhas Canárias, arquipélago espanhol no oceano
Atlântico próximo ao Marrocos.
Dimensão
Esse
foi o maior desfalque dado contra traficantes internacionais brasileiros nos
últimos anos. Antes dele, houve outro grande rombo contra o crime, em março
passado, quando a operação Monte Pollino, também da PF, prendeu 20 pessoas
acusadas de enviarem 1,3 toneladas de cocaína para a Itália. Nesse caso,
conforme a PF houve a participação da máfia italiana.
A
enorme evolução patrimonial dos investigados na última investida contra os
criminosos chamou a atenção da polícia. Eles tinham investimentos em imóveis,
carros de luxo e usavam laranjas para ocultar e lavar o dinheiro, assim como
para fazer o câmbio do dinheiro obtido com o tráfico internacional.
A
opção por vender a droga em outros continentes é óbvia: fora do Brasil o
traficante lucra mais. Um grama de cocaína em São Paulo, por exemplo custa até
50 reais (22 dólares), enquanto que em solo europeu é 4,4 vezes mais cara, 222
reais (98 dólares).
Fonte:
(Primeira Edição)(BBC)(G1)(El País)(R7).
Edição:
Segurança Portuária Em Foco
Nenhum comentário:
Postar um comentário
Os comentários publicados não representam a opinião do Portal Segurança Portuária Em Foco. A responsabilidade é do autor da mensagem. Não serão aceitos comentários anônimos. Caso não tenha conta no Google, entre como anônimo mas se identique no final do seu comentário e insira o seu e-mail.