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quinta-feira, 3 de abril de 2014

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PCC USAVA PORTO DE SANTOS PARA ENVIAR DROGA PARA A EUROPA




O Primeiro Comando da Capital (PCC) participava de um esquema de envio de cocaína para a Europa, a África e a América Central pelo Porto de Santos, segundo investigação da Polícia Federal. É a primeira vez que há provas de ligação da facção criminosa com o tráfico intercontinental de drogas.

As Operações Hulk e Oversea, iniciadas no ano passado e deflagradas na última segunda-feira (31) na capital e na Baixada Santista, resultaram na prisão de 23 suspeitos - 13 estão foragidos. Foram expedidos também 80 mandados de busca.

Segundo os delegados Reinaldo Sperandio e Ivo Roberto, responsáveis pela divulgação da operação, as investigações começaram em maio de 2013. "Não havia facilitação. Eles tinham um esquema. De qualquer forma, nossa investigação apontou que não havia participação dos funcionários dos terminais portuários no esquema", explica Sperandio.

A Polícia Federal já monitorava a quadrilha desde o ano passado e durante todo este período já foram apreendidos dez veículos, uma embarcação, 19 pistolas e dois fuzis.

A droga era trazida da Bolívia pela fronteira com o Paraguai, atravessava São Paulo e chegava à Baixada. Do Porto de Santos, a droga partia principalmente para a Espanha, a África e até para Cuba em navios sem o conhecimento dos responsáveis pelas embarcações.

Segundo as investigações da PF, havia a articulação de diversas células criminosas para executar o plano de transporte da cocaína. Os homens do PCC ficavam encarregados do processo final no porto. Cabia a eles encontrar os navios que atendessem às necessidades da quadrilha, como destino, e infiltrar criminosos nos barcos para fazer o carregamento da cocaína.

O relato da PF sobre a quadrilha, enviado à Justiça, que resultou na expedição dos mandados de busca e apreensão e de prisão, informa que André Oliveira Macedo, ou André do Rap, de 37 anos, e seu comparsa Jefferson Moreira da Silva, o Dente, de 36, davam ordens para seus subordinados do PCC cooptarem funcionários que atuavam em Recintos Alfandegários de Exportação (Redex) para descobrir navios propícios para o transporte da droga e facilitar a entrada de traficantes.

André do Rap é apontado como líder da facção na Baixada - encarregado de tarefas de ponta, como a coleta da "rifa" (contribuições dos integrantes do PCC) e o fornecimento de armas de fogo a parceiros. Ele e Dente estão foragidos. Ambos estão com prisão temporária decretada pela Justiça Federal.

A PF fez buscas por André do Rap em seu apartamento no Guarujá, cidade vizinha a Santos, mas não conseguiu localizá-lo. Ele é apontado como líder do PCC na Baixada Santista, com ligação aos traficantes da zona noroeste de Santos e com o Morro da Nova Cintra. Policiais federais seguem pistas de que ele teria fugido para o nordeste do País. Dente, por sua vez, seria o braço direito de André, responsável por executar serviços como a cobrança da "rifa" (a contribuição exigida pela facção a seus associados) e emprestar armas a terceiros na baixada.

A lista de procurados traz ainda outro apontado como subordinado de André do Rap. É Wagner Vicente Liro, de 30 anos, vulgo Bafinho, que já esteve preso por tráfico de drogas. Há ainda um boliviano, Rolin Gonzalo Parada Gutierrez, o Federi, que seria um dos fornecedores de cocaína ao esquema, e um português, Carlos Miguel Castro Silva.

Da fronteira

O esquema começava na fronteira do Paraguai. Um dos acusados presos na operação, João dos Santos Rosa, coordenava a compra da cocaína com os países vizinhos, por intermédio de Raimundo Carlos Trindade, preso em julho do ano passado com 503 quilos de cocaína.

Eles integravam a célula que incluía o boliviano Rolin Gonzalo Parada Gutierrez, vulgo Federi, também foragido e tido como o principal fornecedor da cocaína ao esquema. Outros integrantes das células tinham contato com compradores na Espanha e em outros países.

Depois que esse grupo fez a aliança com o PCC da Baixada, a rota para o tráfico internacional foi estabelecida.

A cocaína, considerada pura, era colocada em sacolas ou mochilas, que eram inseridas em contêineres por funcionários dos Redex. Há 47 Redex registrados em Santos. Um grupo entrava nos recintos e, após inserir as mochilas nos contêineres, usava lacres falsos.

Quando o contêiner chegava ao destino, traficantes abriam-no para tirar as mochilas e colocavam um lacre clonado na tranca – para evitar que a violação fosse identificada por autoridades portuárias locais.

Investigação

A PF suspeita que a célula que atuava entre o Paraguai e a capital tenha sido responsável por um intenso tiroteio contra policiais federais, em setembro do ano passado, na Rodovia SP-255, em Bocaina, em que um agente foi morto com um tiro de fuzil. Na ocasião, a PF já investigava o grupo.

No ano passado, um relatório do JIFE (Junta Internacional de Fiscalização de Entorpecentes) – órgão internacional independente criado para fiscalizar a implementação de tratados sobre drogas firmados no âmbito da ONU – colocou o Brasil como um dos principais entrepostos da rota de tráfico de cocaína da América do Sul para a Europa.

PF divulga foragidos 


A Polícia Federal divulgou fotos de dez homens que estão sendo procurados por tráfico internacional de drogas. Eles são considerados foragidos e fazem parte de quadrilhas que utilizam como rota o Porto de Santos, no litoral de São Paulo, para exportar cocaína.

O objetivo da Polícia Federal é cumprir todos os 46 mandados de prisão e 80 mandados de busca e apreensão estipulados no início da operação. Outros 13 nomes ainda deverão ser divulgados nos próximos dias.

Veja a lista dos integrantes foragidos da quadrilha:

- Diogo de Souza Marques (Lost), de 32 anos

 - Gilcimar de Abreu (Poocker), de 29 anos

 - Luciano Pereira (Zé), de 28 anos

 - Wagner Vicente de Liro (Bafinho), 30 anos.

 - Carlos Miguel Pina de Castro e Silva (Português), idade não divulgada.

 - Gilmar Flores (Xira), idade não divulgada.

 - Ednilson Rodrigues Caires (Black), 42 anos

 - Márcio Henrique Santos (Messi), 30 anos

 - André Oliveira Macedo (André do Rap), 36 anos

 - Rolin Gonzalo Gutierrez (Ivan Fabero Menacho), idade não divulgada.

A Polícia Federal agora se vê diante de um novo desafio: identificar quem seriam os compradores dessa droga no atacado e se as quadrilhas brasileiras têm conexões com facções internacionais, como a máfia italiana ou bandos portugueses e espanhóis. Para chegar a essas informações, os agentes brasileiros contam com a colaboração de policiais de outros países para onde a droga foi levada como Espanha, Itália, Portugal, Cuba e África do Sul.

Era um tráfico “formiguinha”, já que, raramente, a quantidade de cocaína colocada dentro de cada contêiner passava de 100 quilos - um contêiner comporta em média 20 toneladas de produtos. Para não levantar suspeita, os criminosos rompiam o lacre do contêiner e o substituíam por um lacre clone (igual ao que havia sido rompido). Junto com a mochila com a droga, havia outro lacre clone para ser usado quando a droga chegasse ao seu destino. Isso porque a droga era retirada do navio antes que a carga legal fosse desembarcada.

De acordo com a polícia, a droga apreendida em Santos era produzida na Bolívia e entrava no Brasil pela fronteira seca com os Estados de Mato Grosso e Mato Grosso do Sul (às vezes passando pelo Paraguai) e por meio de rodovias seguia até a região da Grande São Paulo, onde era estocada. Quando algum chefe do bando ordenava, a droga era levada para Santos, de onde partia para as rotas internacionais. Um dos portos onde a cocaína desembarcou antes de seguir para o continente europeu foi um das Ilhas Canárias, arquipélago espanhol no oceano Atlântico próximo ao Marrocos.

Dimensão


Esse foi o maior desfalque dado contra traficantes internacionais brasileiros nos últimos anos. Antes dele, houve outro grande rombo contra o crime, em março passado, quando a operação Monte Pollino, também da PF, prendeu 20 pessoas acusadas de enviarem 1,3 toneladas de cocaína para a Itália. Nesse caso, conforme a PF houve a participação da máfia italiana.

A enorme evolução patrimonial dos investigados na última investida contra os criminosos chamou a atenção da polícia. Eles tinham investimentos em imóveis, carros de luxo e usavam laranjas para ocultar e lavar o dinheiro, assim como para fazer o câmbio do dinheiro obtido com o tráfico internacional.

A opção por vender a droga em outros continentes é óbvia: fora do Brasil o traficante lucra mais. Um grama de cocaína em São Paulo, por exemplo custa até 50 reais (22 dólares), enquanto que em solo europeu é 4,4 vezes mais cara, 222 reais (98 dólares).



Fonte: (Primeira Edição)(BBC)(G1)(El País)(R7).

Edição: Segurança Portuária Em Foco














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