A
Justiça Federal de São Paulo aceitou na última quinta-feira (27), denúncia
contra 18 pessoas suspeitas pela prática dos crimes de formação de quadrilha,
tráfico de influência e corrupção ativa. A denúncia tinha sido apresentada pelo
Ministério Público Federal de São Paulo (MPF-SP) em dezembro de 2012 contra 24
pessoas investigadas pela Polícia Federal (PF) na chamada Operação Porto
Seguro, que apurou suposto esquema de venda de pareceres técnicos do governo em
favor de empresas privadas.
Devido
ao número de acusados, o MP federal solicitou o desmembramento da ação alegando
que a alta quantidade de pedidos feitos pelos respectivos acusados e advogados
provocaria morosidade e tumulto processuais.
O
juiz federal Fernando Américo de Figueiredo Porto, substituto da 5ª Vara
Federal Criminal em São Paulo/SP, considerou que, “analisando a denúncia, é
possível perceber uma clara separação entre os fatos supostamente criminosos.
Embora a investigação tenha origem comum, percebe-se que os supostos ilícitos
não possuem relação umbilical entre si”.
Diante
disso, o magistrado determinou o desmembramento em cinco processos distintos de
acordo com os núcleos de investigação. Entre os acusados estão o ex-diretor da
Agência Nacional de Águas (ANA) Paulo Vieira, o ex-diretor da Agência Nacional
de Aviação Civil (Anac) Rubens Vieira e o irmão deles Marcelo Vieira, além da
ex-chefe do escritório da Presidência em São Paulo Rosemary Noronha, e os
advogados Marco Antonio Negrão Martorelli e Patrícia Santos Maciel de Oliveira.
O
primeiro núcleo de acusados corresponde ao caso Tecondi-Codesp-TCU, no qual
auditor do Tribunal de Contas da União foi acusado de receber propina de Paulo
Vieira para alterar pareceres em favor da empresa Tecondi. O segundo núcleo do
processo é sobre as acusações de irregularidades em empreendimentos da
Companhia Docas do Estado de São Paulo (Codesp) na Ilha dos Bagres e na Ilha
das Cabras, ambas no litoral paulista. O terceiro núcleo envolve supostos
crimes de corrupção na Empresa Brasileira de Correios e Telégrafos (EBCT), em
Brasília. No quarto núcleo, Paulo Vieira é acusado oferecer dinheiro a servidor
do Ministério da Educação, para obter aprovação de cursos da Faculdade de
Ciências Humanas de Cruzeiro (Facic). O réu seria sócio de algumas instituições
de ensino citadas no inquérito da PF. E o quinto núcleo tem relação a vários
crimes cometidos, a maioria deles em São Paulo, envolvendo reformas de
apartamento e restaurante, pagamentos de propinas e troca de favores.
A
denúncia foi assinada pelos procuradores Suzana Fairbanks Oliveira Schnitzlein,
Roberto Antonio Sassiê Diana e Carlos Renato Silva e Souza.
Formação de quadrilha
Nas
53 páginas do relatório do inquérito, o delegado da PF Ricardo Hiroshi Ishida
aponta que "a quadrilha" agia para obter "facilidades junto a
órgãos públicos por meios ilícitos", cometendo "crimes de
corrupção" para "atender interesses de empresários".
Ainda
de acordo com o documento, Paulo Rodrigues Vieira, ex-diretor da Agência
Nacional de Águas, tinha "a função de chefia".
O
esquema funcionava assim, segundo o relatório: um empresário precisava de
facilidades num órgão público onde Paulo tinha influência. Paulo acionava seus
contatos, entre eles, seu irmão Rubens Vieira - diretor afastado da Agência
Nacional de Aviação Civil - considerado o conselheiro da quadrilha. Os
advogados Marco Antonio Martorelli e Patrícia Maciel ajudavam servidores
públicos corruptos a escrever pareceres ou relatórios de interesse da
quadrilha.
PF
chama tanto Martorelli quanto Patrícia de "testa de ferro jurídico".
Marcelo Vieira, irmão caçula de Paulo e Rubens, era quem levava e trazia
pacotes para fazer depósitos em dinheiro. Também no nome dele eram registrados
imóveis e outros bens. Para a PF, Marcelo atuava como laranja. O grupo
criminoso pedia ou oferecia vantagens indevidas para funcionários públicos,
como o "pagamento de viagem de navio".
No
inquérito, a PF indiciou 22 pessoas, excluindo Cyonil Cunha Borges, o delator
do esquema, e o vice-presidente jurídico dos Correios, Jefferson Carlos Carus
Guedes. A procuradora Suzana Fairbanks, porém, decidiu denunciá-los por
corrupção passiva. "[Cyonil] realmente solicitou as vantagens
indevidas", explicou. Ela afirma que em diversos e-mails o ex-auditor pede
a Paulo Vieira, em código, dinheiro em troca de um parecer fraudulento. Pesa
contra ele, ainda, a comprovação que recebeu R$ 100 mil de Paulo.
No
caso de Guedes, a procuradora diz que há provas de que ele solicitou propina. A
assessoria dos Correios informou que o vice-presidente jurídico da estatal,
Jefferson Guedes, está afastado de suas funções na empresa desde o dia 3 de
dezembro, até que seja concluída a auditoria interna sobre os fatos. Os
Correios só irão se pronunciar sobre a denúncia após serem oficialmente
comunicados.
Atuação política
O relatório da PF destaca ainda a atuação da
ex-chefe do gabinete da Presidência da República em São Paulo, Rosemary
Noronha, como um braço de influência política na estrutura da quadrilha.
Inicialmente, ela foi indiciada por tráfico de influência, corrupção passiva e
falsidade ideológica. Mas, ao analisar o material apreendido no escritório da
presidência, o delegado da Polícia Federal decidiu indiciá-la também por
formação de quadrilha.
De
acordo com os procuradores, as investigações chegaram a um total de 15
episódios que envolvem "favores pedidos, vantagens solicitadas, cobradas
ou recebidas por Paulo Vieira a Rosemary". Ainda foram apresentadas 27
situações nas quais Rosemary pediu favores aos irmãos Vieira, segundo o MPF.
O
Ministério Público denunciou Rosemary por formação de quadrilha, corrupção passiva,
tráfico de influência e duas vezes por falsidade ideológica. Segundo a
procuradora Suzana, Rosemary pediu a Paulo Vieira um certificado de conclusão
de curso para seu ex-marido, o que, de acordo com as investigações, foi
providenciado. Paulo também teria fornecido a Rosemary um atestado de
capacidade técnica falso.
Questionada
sobre a relação próxima entre a ex-chefe de gabinete da Presidência e o
ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, a procuradora disse não haver indícios
da participação de Lula no esquema. "Ela usava mais o seu cargo. [...] ela
não se apresentava por ele [o presidente]."
Ainda
de acordo com a procuradora, o uso do cargo ficou evidente nas trocas de
favores que ela fazia com os irmãos Vieira, cujas provas foram adquiridas nas
interceptações de e-mails trocados entre eles. "Uma coisa é fazer contato
vinculado ao cargo dela. Isso é totalmente legal. [...] o problema é que ela
não fazia para atendimento ao trabalho dela, mas para terceiros."
Em
sua única manifestação sobre o caso, Rose, como é conhecida, negou ter
praticado tráfico de influência e corrupção e disse que nunca fez nada
"ilegal, imoral ou irregular" quando ocupava o cargo.
Na
época em que foi denunciada pelo MPF, em dezembro de 2012, o advogado de
Rosemary Noronha disse que o indiciamento dela é improcedente - e baseado em
premissas equivocadas.
A
operação envolveu 180 agentes nas cidades paulistas de Cruzeiro, Dracena,
Santos, São Paulo e em Brasília. Foram cumpridos 26 mandados de busca e
apreensão em São Paulo e 17 na capital federal. De acordo com a PF, o grupo
cooptava funcionários de segundo e terceiro escalões para obter pareceres
fraudulentos, a fim de beneficiar empresas privadas.
Fonte:
G1
Mais uma vez esse Lula não sabe de nada, não está envolvido, acho muito estranho uma pessoa estar em tantos processos sem estar envolvido.
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