Parceira
do governo estadual no processo de pacificação de favelas, no combate ao
tráfico de drogas e armas e na repressão ao crime organizado, a Polícia Federal
do Rio teve, no ano passado, o segundo pior desempenho entre todas as 27 superintendências
do país. Sua produtividade só não foi pior que a da PF do Espírito Santo, a
última colocada. Os números foram divulgados pela Direção Geral da corporação,
em Brasília, esta semana, a menos de quatro meses de o Rio sediar jogos da Copa
do Mundo — quando receberá turistas do mundo inteiro — e num momento em que se
registra um aumento de ações criminosas em áreas já pacificadas.
O
desempenho da Polícia Federal no Rio em 2013 foi divulgado internamente há dois
dias pelo delegado Oslain Campos Santana, chefe da Diretoria de Investigação e
Combate ao Crime Organizado (Dcor). Ele publicou o Índice de Produtividade
Operacional (IPO) das superintendências de todo o país no período de janeiro a
dezembro do ano passado. Os melhores índices foram os das PFs de Roraima
(primeira colocada), Mato Grosso do Sul (segunda), Paraná (terceira), São Paulo
(quarta) e Amapá (quinta).
O
IPO, divulgado anualmente, é resultado de uma equação que leva em conta o
desempenho da PF em suas principais atribuições constitucionais. São três
índices, somados e divididos: atividades operacionais (que incluem, entre
outras, ações contra o tráfico e prisões de criminosos); fatores geográficos (o
número de municípios, o tamanho do território e a quantidade de zonas
eleitorais do estado onde atua a superintendência); e atividades administrativas
(fiscalização de navios e quantidade de passaportes emitidos). A nota média do
Rio foi 1,654. Já a PF de Roraima, a primeira colocada, obteve 4,077, e a do
Espírito Santo, a última na classificação geral, ficou com 1,527.
Superintendência do Rio
critica metodologia
A
PF do Rio, considerada uma das maiores do país, com cerca de mil servidores,
aparece em último lugar em dois dos três índices analisados pela Diretoria de
Investigação e Combate ao Crime Organizado: em atividades operacionais, que têm
o maior peso no cálculo, com nota média de 1,091; e em fatores geográficos, com
0,039. Os policiais federais fluminenses só tiveram bom rendimento na chamada
atividade administrativa — ou seja, na burocracia. Ficaram em segundo lugar,
com desempenho só superado pela PF de São Paulo.
Em
nota ao GLOBO, a PF do Rio criticou a forma como o cálculo foi realizado. O
texto lembra que o Índice de Produtividade Operacional não leva em consideração
contextos em que a PF no Rio está inserida: “Nas características geográficas,
incluem-se extensão de fronteiras, área de reserva indígena, área da unidade da
federação, quantidade de municípios. Tais dados não são influenciados pelas
atividades exercidas pelo Rio. Em extensão de fronteiras, o Rio jamais poderia se
igualar às unidades no Amazonas ou em Roraima, por exemplo”.
Veja a íntegra da nota:
“A
Polícia Federal no Rio de Janeiro esclarece que o Índice de Produtividade
Operacional – IPO, que engloba dados operacionais, administrativos e
geográficos, não leva em consideração, necessariamente, contextos em que a PF
no Rio está inserida”.
Nas
características geográficas incluem-se extensão de fronteiras, área de reserva
indígena, área da unidade da federação, quantidade de municípios, entre outros.
Tais dados, notadamente, não são influenciados pelas atividades exercidas pela
PF no Rio. Em extensão de fronteiras a Superintendência Regional de Polícia
Federal no Rio de Janeiro – SR/DPF/RJ jamais poderia se igualar às unidades no
Amazonas ou em Roraima, por exemplo.
Quanto
às atividades operacionais, a PF no Rio se destaca com mais de cinco mil
inquéritos policiais relatados, dezenove operações policiais realizadas,
ficando em terceiro lugar entre as unidades da federação nos dois quesitos. Em
número de flagrantes e indiciados, a SR/DPF/RJ ocupa a quinta posição.
Por
fim, com relação aos serviços administrativos, a SR/RJ se sobressai tendo
expedido mais de 280 mil passaportes e incluído aproximadamente 10 mil
registros no Sistema Nacional de Informação Criminal (SINIC).”
Confira o índice de
produtividade da Polícia Federal por estado
Atividades
profissionais, fatores geográficos e atividades administrativas são
considerados na avaliação de desempenho das 27 superintendências.
PF do Rio corre risco de
colapso, alerta procurador da República
Representante
do Ministério Público Federal enviará a Brasília um relatório sobre a situação
da corporação
Se
a Polícia Federal não for repensada e redimensionada num curto espaço de tempo,
corre o risco de entrar em colapso e ver cair por terra todo o reconhecimento
social, conquistado por anos a fio de trabalho de excelência. Cabe ao governo
federal alcançar, o quanto antes, um denominador comum quanto às reivindicações
sindicais da corporação, assim como repensar as suas atribuições
administrativas colaterais. Isso sob a pena de ver a PF afogar-se nas suas
mazelas internas e num sem-número de atribuições colaterais — afirmou o
procurador.
A
decisão de enviar o ofício ao procurador-geral foi anunciada depois de O GLOBO
revelar, na sexta-feira, que a Polícia Federal do Rio teve, no ano passado, o
segundo pior desempenho entre todas as 27 superintendências do país. Sua
produtividade só não foi pior que a da PF do Espírito Santo, a última colocada.
Os números foram divulgados pela Direção Geral da corporação, em Brasília, esta
semana, a menos de quatro meses de o Rio sediar jogos da Copa do Mundo — quando
receberá turistas do mundo inteiro — e num momento em que se registra um
aumento de ações criminosas em áreas já pacificadas.
Em
nota, a PF lembrou que em 2013, por conta de grandes eventos realizados na
cidade, como a visita do Papa Francisco durante a Jornada Mundial da Juventude
e a Copa das Confederações, empregou grandes contingentes de policiais na
segurança de autoridades, sem deixar de realizar operações contra o crime.
Também ressaltou que o Índice de Produtividade Operacional (IPO), que engloba
dados operacionais, administrativos e geográficos, não leva em consideração,
necessariamente, contextos em que a PF do Rio está inserida. A nota frisa:
“Quanto às atividades operacionais, a PF no Rio se destaca com mais de cinco
mil inquéritos policiais relatados, dezenove operações policiais realizadas,
ficando em terceiro lugar entre as unidades da federação nos dois quesitos; em
número de flagrantes e indiciados, a PF do Rio ocupa a quinta posição”. Com
relação aos serviços administrativos, a PF informou que “se sobressai, tendo
expedido mais de 280 mil passaportes e incluído aproximadamente dez mil
registros no Sistema Nacional de Informação Criminal (Sinic)”.
Excesso de atribuições
burocráticas é alvo de crítica
O
procurador Fernando José Aguiar de Oliveira disse que a PF do Rio passa por um
momento institucional delicado. Em sua opinião, dois fatores contribuem de maneira
decisiva para isso:
—
O primeiro diz respeito à enorme quantidade de funções colaterais que lhe são
atribuídas, todas essencialmente burocráticas e que nada, ou quase nada, têm a
ver com a missão constitucional da PF. O segundo fator está relacionado à crise
institucional sem precedentes, já amplamente divulgada pelos meios de
comunicação, verificada entre agentes, escrivães e papiloscopistas, de um lado,
e delegados, de outro, o que vem prejudicando o desempenho do órgão,
principalmente no que toca às investigações. Há relatos formais acerca da
recusa de agentes, escrivães e papiloscopistas de cumprir as ordens dos
delegados, sempre que, por exemplo, demandem a análise mais apurada de
processos, áudios de interceptações telefônicas ou extratos bancários. Eles
argumentam que essa atividade compete exclusivamente aos delegados.
Para
o Sindicato dos Servidores da PF do Rio, a crise é consequência do sucateamento
da corporação feito pelo governo federal, desmotivando os funcionários, que
reagem com movimentos reivindicatórios. O sindicato frisou que as
reivindicações — como as por melhores condições de trabalho e valorização
salarial — não são causas da baixa produtividade. Os agentes estão há sete anos
sem aumento.
—
A queda nas estatísticas, que se acentuou após o Pan-Americano de 2007, é uma
questão que perpassa as perdas salariais, chegando a um processo de
deterioração das carreiras de escrivães, papiloscopistas e agentes federais,
anteriormente muito reconhecidas, mas hoje desvalorizadas — afirmou André Vaz
de Mello, presidente em exercício do sindicato.
Segundo
ele, os servidores “recebem a falta de estrutura e de efetivo como um boicote praticado
pelo governo federal”:
—
Para a categoria, o que parece é ser um castigo pelas operações anticorrupção
que foram feitas e culminaram na prisão de líderes políticos ligados ao atual
governo.
Federação denuncia manobra
da Direção da PF para mascarar improdutividade do órgão
No
último dia 05 de junho, a Polícia Federal divulgou em seu boletim de serviço n.
106, uma “nota para o boletim n. 01”, onde é divulgada a fórmula que gera o IPO
- Índice de Produtividade Operacional - criado pela Direção-Geral da PF para
medir a produtividade das superintendências regionais.
Há
vários anos o Tribunal de Contas da União (TCU) tem alertado a administração da
PF, pois suas unidades gestoras devem prestar contas dos recursos públicos
investidos, e os índices de produtividade sempre usados eram baseados, apenas,
na quantidade de inquéritos relatados e no tempo de duração do inquérito, ou
seja, somente na quantidade de papel produzido.
Recentemente
o Ministério Público Federal divulgou estatística oficial em que somente 8% dos
inquéritos policiais relatados por delegados da Polícia Federal são
aproveitados para virarem denúncias (clique AQUI para ler). Em outras palavras,
92% dos relatórios encaminhados pela PF não serviram para combater a
criminalidade.
Nas
sociedades desenvolvidas o índice de eficiência da polícia é mensurado pela
diminuição da criminalidade ou casos resolvidos, que se refletem nas efetivas
prisões e condenações. Mas infelizmente a alta administração da Polícia
Federal, com cargos de gestão de logística indicados politicamente e ocupados
por bacharéis em Direito, está disfarçando a improdutiva burocracia e a crise
institucional do órgão, causada pela falta de perspectiva profissional da
grande base de policiais, hoje desamparada e desmotivada.
Para
espanto dos policiais e da sociedade, que sonham ver os seus impostos bem
investidos na Segurança Pública, a seguir está a fórmula divulgada oficialmente
para calcular a eficiência de cada unidade gestora da Polícia Federal, o IPO,
índice de produtividade operacional:
A
simples visualização da fórmula já causa estranheza. Se a atuação do Tribunal
de Contas da União busca justamente a transparência no uso dos recursos
públicos, como imaginar que o cidadão comum vai entender o que significa essa
fórmula até bonita, mas inicialmente indecifrável, e pessimamente explicada na
portaria que a divulga.
E
a leitura mais atenta do funcionamento da fórmula mágica IPO é mais
assustadora. Segundo a proposta da alta gestão da PF:
I- A medição de eficiência a partir da
produção de papel é potencializada, ou seja, além da quantidade de inquéritos
policiais relatados, somam-se os indiciamentos e inquéritos instaurados. E veja
a mágica funcionando, pois todo indiciamento ocorre num inquérito instaurado
que, um dia, será relatado. É o milagre da multiplicação da produtividade! Que
independe se a investigação será conclusiva ou não.
II
– A estupidez dos antigos índices baseados em burocracia permanece, pois são
considerados produtivos os inquéritos arquivados por falta de provas, os
inquéritos arquivados por conta de crimes prescritos pelo decurso do tempo, e
até inquéritos arquivados porque não deveriam ter sido instaurados.
III
- Além disso, a fórmula mágica prevê que quanto maior a área da unidade da
federação, a quantidade de municípios ou o número de passageiros nos
aeroportos, maior será o IPO da unidade gestora. Ou seja, a produtividade
encantada de um órgão público é proporcional a fatores geográficos e
demográficos.
Na
verdade, tal índice mágico IPO não cria uma medida da eficiência absoluta, pois
gera um índice comparativo entre unidades gestoras. E pior, depende quase
exclusivamente de procedimentos burocráticos que ignoram a produção robusta de
prova apta a condenar os criminosos.
É
fácil perceber também que a arquitetura da fórmula mágica IPO foi planejada
para não ser transparente e, principalmente, para gerar números que não são
discrepantes entre as unidades gestoras, como forma de não gerar tensões entre
superintendentes, nas leituras das suas várias casas decimais.
Ao
invés de realmente medir a eficiência a partir do número de servidores ou
recursos aplicados, foi criada uma mistura de procedimentos não conclusivos
sobre crimes e fatores externos que afetam diretamente o cálculo, e
estatisticamente torna o índice IPO uma piada.
Historicamente
acontece na Polícia Federal a apropriação do trabalho intelectual dos agentes,
escrivães e papiloscopistas, policiais de nível superior desde 1996. Seguindo
uma política de segregação funcional, associações de delegados e peritos
monopolizam os cargos de chefia do órgão, e fazem com que o trabalho complexo
exercido pela grande base de servidores permaneça informal e longe das
estatísticas oficiais
Curiosa
a leitura de uma das observações citadas na portaria que cria a fórmula mágica
IPO: “Define-se índice de produtividade como uma relação entre os resultados
alcançados, frente aos recursos necessários a obtê-los em determinado
processo”.
Ora,
em nenhum lugar nas tabelas, variáveis e índices citados no cálculo IPO estão
valores de recursos direcionados pelos programas do Governo Federal para a
Polícia Federal. Ou seja, além de fantasiosa, também é falaciosa a divulgação
do mágico índice IPO.
A
Fenapef comunicará ao Tribunal de Contas da União, órgãos ministeriais e
Ministério Público Federal essa lamentável postura da Direção-Geral da Polícia
Federal, que viola os princípios constitucionais básicos que regem o serviço
público federal, no tocante à transparência, eficiência, economicidade e
publicidade.
Fonte:
O Globo / Agência Fenapef
Edição: Segurança Portuária Em Foco
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