A 3ª Delegacia de Polícia de Rio Grande deflagrou
às 6h da última quarta-feira (27/11) a “Operação Passe Livre” a fim de combater
atuação de uma organização criminosa estabelecida na Via Um, no Porto de Rio
Grande. A organização denominada Sindicato de Transportadores Autônomos de
Bens, Sindicam, mediante atos de violência consistentes em incêndios criminosos
de caminhões, disparos de armas de fogo nas residências de caminhoneiros,
ameaças, lesões corporais, tentativas de homicídios, impunham às empresas que
atuavam na área do porto, bem como a caminhoneiros não sindicalizados, o
pagamento de uma espécie de pedágio, 17% sobre o valor de cada frete, de modo
que o Sindicam passou com isso a exercer com exclusividade domínio sobre a
movimentação de cargas de Rio Grande.
Os primeiros registros de ocorrências policiais
envolvendo atos de violência contra caminhoneiros tiveram início há
aproximadamente 10 anos. O presidente do Sindicam, Paulo Ricardo Menna
Quaresma, que exerce o cargo há 25 anos, foi preso em sua residência onde foi
cumprido mandado de busca e apreensão. No local, foi encontrado uma pistola,
cal. 9mm de uso restrito, o que gerou sua prisão em flagrante. Nas casas de
outros quatro diretores foram encontradas armas de fogo com numeração raspada,
munições, drogas, balança de precisão, tacos de beisebol e outros instrumentos
utilizados para causar danos ao patrimônio das vítimas.
A ação foi coordenada pelo Delegado de Polícia
Rafael Patella Amaral, titular da 3ª Delegacia de Polícia e contou com a
presença de 130 policiais das cidades de Rio Grande, Pelotas, Camaquã, São José
do Norte, Chuy, Santa Vitória do Palmar, Santana do Livramento, Uruguaiana,
Arroio Grande, Jaguarão, Delegacia Fazendária, Fiscais da Fazenda Estadual e
apoio aéreo de helicóptero da PC. O diretor do Departamento de Polícia do
Interior, delegado Mário Wagner, acompanhou os trabalhos policiais.
Se comprovados os crimes, os responsáveis poderão
responder por formação de quadrilha, extorsão, improbidade administrativa,
incêndio, lesão corporal e lavagem de dinheiro. Além de cinco mandados de
prisão, havia oito mandatos de busca e apreensão.
O monopólio
Para intimidar concorrentes, conforme a polícia, o
grupo queimava caminhões, ameaçava motoristas e disparava contra veículos
particulares. Segundo a investigação da Operação Passe Livre, a origem de tudo
está em um pequeno grupo que supostamente monopoliza o serviço de transporte de
cargas interno e externo e intimida possíveis novos interessados no terminal.
O resultado disso se vê em empresas gaúchas: a
Conservas Oderich, cansada dos impasses, resolveu transferir suas cargas para o
porto de Itajaí (SC). Já uma possível concorrente do grupo, a Operadora
Portuária Trust Express Ltda., teve que ceder à pressão, retirar a frota
própria, e contratar terceirizados que fossem ligados ao grupo.
— Eu nunca vi coisa igual. Operamos nos portos do
Ceará, Fortaleza, São Luiz do Maranhão, Bahia e Recife. E lá é como deve ser:
livre concorrência. Em Rio Grande, já tive prejuízo de mais de R$ 500 mil,
funcionário ameaçado, caminhão incendiado, tiros. É um cerco contra as empresas
de fora — espanta-se o diretor-presidente da Trust Express, Gilberto Gedion
Gollo.
O grupo seria liderado pelo Sindicato dos
Transportadores Autônomos de Bens de Rio Grande (Sindicam). Segundo a polícia,
Quaresma (foto), 55 anos, presidente do Sindicato, se dizendo defensor da categoria,
acabaria coordenando ações para que, no transporte interno, somente os
sindicalizados tenham trabalho — e não oferece qualquer benefício em troca:
— Na verdade, os caminhoneiros que querem trabalhar
no transporte interno têm que se sindicalizar. Em contrapartida, o sindicato
não dá nada: nenhum benefício de saúde, de assistência, etc., apenas permite
que se trabalhe. E ainda cobra conforme a quantidade de carga. É como um
pedágio. De fato, há um funcionário que fica com um taco de beisebol vigiando
quem está trabalhando. Temos ocorrência dele de ter agredido funcionários e
quebrado veículos — afirma o delegado Rafael Patela.
O funcionário do sindicato em questão é Amaro
Fernandes Delgado, 44 anos. Ele, Quaresma e outros três homens ligados à
diretoria do sindicato têm mandados de prisão decretados, que a polícia cumpre
na manhã desta quarta-feira.
Outro esquema supostamente comandado pelo sindicato
é do transporte externo, ou seja, de Rio Grande para outras cidades. A única
empresa que faria o transporte seria a D.A.R. Transportes, cujo gerente de Rio
Grande é o filho do presidente do sindicato, Jeferson Ricardo Goulart Quaresma,
32 anos.
As demais concorrentes seriam desmotivadas a
trabalhar com ações como as que afastaram a Trust, com queima de caminhões e
tiros nos veículos e casas de motoristas, além de ameaças verbais.
— Eu comecei com 10 caminhões, poderia estar com 50
hoje, mas meus investimentos foram para outros locais, onde há mais segurança —
explica Gollo.
Outra empresa que sofreu ameaças, a Log In,
intermodal de logística, aparece em um vídeo gravado por ela mesma em 2008. A
empresa tenta romper o contrato com Quaresma e ele reage com ameaças:
— Vamos parar os testes da Log In, vamos inclusive
parar a Via1 e trancamos a orla portuária com dois sindicatos.
Os interlocutores, então, perguntam o que devem
fazer e ele responde:
— Vão continuar com a parceria de vocês, que dou a
certeza da garantia do atendimento, qualquer dificuldade que tiver nisso aí, tu
tens toda liberdade... É só pegar meu telefone, ligar, Paulo, eu estou tendo
uma dificuldade em Rio Grande, que eu soluciono toda e qualquer dificuldade —
garante ele.
Para a polícia, está claro que é o sindicato por
trás das ações por três motivos principais: porque seria o único beneficiado
com o monopólio, porque há provas com gravações telefônicas e vídeos que
demonstram envolvimento dos suspeitos e porque há um ganho de patrimônio do
presidente do sindicato, Paulo Quaresma, desproporcional ao seu salário de R$ 6
mil.
— Nenhum bem está no nome dele, mas de parentes. É
inviável que uma pessoa que ganhe R$ 6 mil tenha uma casa avaliada em R$ 1
milhão, no Cassino, e ainda outros três imóveis como é o caso dele. E não só
isso: cada dia está em um carro de luxo: Camaro, Jetta, S10, Frontier, moto
Hayabusa, avaliada em R$ 70 mil — conta o delegado Patela.
Entenda o
caso
— Em 10 anos, há mais de 60 ocorrências no
Superporto, envolvendo caminhoneiros com veículos queimados, motoristas
ameaçados em casa com tiros à queima roupa e disparos contra os automóveis.
— A polícia acredita que quem esteja por trás dos
ataques é o Sindicato dos Transportadores Autônomos de Bens de Rio Grande
(Sindicam), por três motivos principais: porque seria o único beneficiado com o
monopólio de transporte de carga; porque há provas com gravações telefônicas e
vídeos que demonstram envolvimento dos suspeitos; porque há um ganho de
patrimônio do presidente do sindicato, Paulo Quaresma, desproporcional ao seu
salário de R$ 6 mil. Ele tem uma casa avaliada em R$ 1 milhão, além de aparecer
em carros de luxo.
— Quaresma e outros quatro funcionários foram
presos e poderão responder por formação de quadrilha, extorsão, improbidade
administrativa, incêndio, lesão corporal e lavagem de dinheiro.
Nota de Esclarecimento
No site do sindicato, o presidente publicou a
seguinte nota de esclarecimento:
O SINDICATO DOS TRANSPORTADORES AUTÔNOMOS DE BENS
DE RIO GRANDE – SINDICAM vem a publico manifestar-se acerca de fatos ocorridos
na cidade do Rio Grande referente a depredação de caminhões de propriedade da
empresa OPERADORA PORTUÁRIA TRUST EXPRESS LTDA. no decorrer do mês de novembro
de 2012. Neste contexto, o SINDICAM expressa o seu total repúdio a estes
lamentáveis episódios, confiando na mais pronta apuração dos fatos pelas
autoridades públicas. No entanto, torna-se importante dizer que qualquer especulação
acerca do envolvimento de seus membros ou associados nesta ação criminosa
apresenta-se completamente descabida e despropositada, razão pela qual, toda e qualquer
alegação infundada neste sentido receberá a devida resposta através da medida
judicial cabível. Efetivamente, atuações como as que ensejam dano doloso ao
patrimônio de terceiros são inaceitáveis pela administração do SINDICAM, que sempre
pautou pelo respeito e bom relacionamento com todos os envolvidos na operação e
transporte de cargas, filosofia esta veementemente repassada a seus associados
e colaboradores. Ademais, nossa entidade orgulha-se de manter-se idônea, seria
e transparente em todos os seus relacionamentos comerciais, apresentando-se
inadmissível que pessoas inescrupulosas tentem macular a boa conduta que o
SINDICAM vem desempenhando desde a sua criação.
Fonte:
Zero Hora / Site da Polícia Civil / Site do Sindicam –
Edição:
Segurança Portuária Em Foco
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