Disfarçados
de portuários, quatro agentes da Abin - o serviço secreto do governo - foram
presos sob suspeita de bisbilhotar a vida do governador Eduardo Campos,
pré-candidato à Presidência da República
É
colossal o esforço do governo para impedir que decolem as candidaturas
presidenciais do governador de Pernambuco, Eduardo Campos (PSB), e da
ex-senadora Marina Silva (sem partido). Nos últimos meses, a presidente Dilma
Rousseff reacomodou no ministério caciques partidários que ela havia demitido
após denúncias de corrupção, loteou cargos de peso entre legendas desgarradas
da base aliada e pressionou governadores do próprio PSB a minar os planos de
Campos. Sob a orientação do ex-presidente Lula, Dilma trabalha para montar a
maior coligação eleitoral da história e, assim, impedir que eventuais rivais
tenham com quem se aliar. A maior parte dessa estratégia é posta em prática à
luz do dia, como a volta dos “faxinados” PR e PDT à Esplanada, mas há também
uma face clandestina na ofensiva governista, com direito a espionagem
perpetrada por agentes do estado. Um dos alvos dessa ação foi justamente
Eduardo Campos, considerado pelo PT um estorvo à reeleição de Dilma pela
capacidade de dividir com ela os votos dos eleitores do Nordeste, região que
foi fundamental para assegurar a vitória da presidente em 2010.
O
Porto de Suape, no Recife, carro-chefe do processo de industrialização de
Pernambuco, serviu de arena para o até agora mais arrojado movimento envolvendo
essa disputa pré-eleitoral. No dia 11 de abril, a Polícia Militar deteve quatro
espiões da Agência Brasileira de Inteligência (Abin) que fingiam trabalhar no
local, mas há semanas se dedicavam a colher informações que pudessem ser usadas
contra Campos. A Secretaria de Segurança Pública estadual já monitorava os agentes
travestidos de portuários fazia algum tempo. Disfarçados, eles estavam no
estacionamento do porto quando foram abordados por seguranças. Apresentaram
documentos de identidade falsos e se disseram operários. Acionada logo depois,
a PM entrou em cena. Diante dos policiais, os espiões admitiram que eram
agentes da Abin, que estavam cumprindo uma missão sigilosa e pediram que não
fossem feitos registros oficiais da detenção.
Em
abril deste ano, um documento sigiloso obtido pelo jornal Estado de S.Paulo
confirmou que o Gabinete de Segurança Institucional da Presidência (GSI)
mobilizou a Agência Brasileira de Inteligência (Abin) para monitorar portuários
e sindicatos contrários à Medida Provisória 595, conhecida como MP dos Portos.
Identificado
como “Ordem de Missão 022/82105”, de 13 de março de 2013, o ofício foi
encaminhado a superintendências da Abin em 15 Estados litorâneos traz em
destaque o alvo dos agentes: “Mobilização de Portuários”. O GSI confirma a
autenticidade do documento. O teor da ordem desmente o general-chefe José
Elito, ministro-chefe do GSI, que classificou como mentirosa a descoberta.
Naquela
mesma oportunidade, o governador Eduardo Campos preferiu não tecer críticas ao
suposto esquema de espionagem montado no complexo de Suape. O socialista se
escorou no posicionamento dado pelo Governo Federal sobre o caso, negando o
episódio e afastando a conotação política dada à informação publicada pelo
Jornal Estado de São Paulo. O gestor estadual deixou transparecer desconhecimento
sobre a suposta operação em solo pernambucano.
Vereado de Jaboatão está entre os
espiões
Um
dos quatro ‘espiões’ que teriam sido presos pela Polícia Militar de Pernambuco
é o vereador de Jaboatão dos Guararapes, Edmilson Silva (PV). “Nada mais
natural… Edmilson vive, portanto, uma situação curiosa. Durante o dia, como
vereador, é um defensor das liberdades. Às escuras, como araponga, une-se aos
colegas de repartição para violá-las”, diz um trecho da reportagem.
Segundo
a publicação, os quatro agentes detidos trabalham na superintendência da Abin
em Pernambuco. Edmilson, Mário Ricardo Dias de Santana, Nilton de Oliveira
Cunha Junior e Renato Carvalho Raposo de Melo vinham sendo monitorados pela
Secretaria de Segurança Pública Estadual há algum tempo. No momento da
abordagem, os agentes travestidos de portuários apresentaram documentos de
identificação falsos.
Depois
que a PM revelou a farsa, os ‘espiões’ revelaram a verdade e pediram que não
fossem feitos registros oficiais da detenção, já que estavam cumprindo missão
sigilosa da Abin. No dia da prisão, o grupo estava em dois carros. O primeiro –
Pálio (JCG-1781) – tinha placa fria e o outro – Peugeot (KHI-1941) – estava em
nome da Abin.
À
Veja, Edmilson negou o envolvimento na espionagem. “Fui ao Porto de Suape
algumas vezes para visitar amigos. Mas, nunca fui detido ou preso, nunca usei
documento falso, não há registro sobre isso”, disse, informando à revista que
nenhum monitoramento contra cidadãos ou governantes é realizado nos dias
atuais.
Político
Apesar de o chefe de segurança do GSI, general
José Elito Siqueira, ter afirmado que a espionagem era apenas de “monitoramento
de cenários para a presidenta”, a reportagem destaca o cunho político da ação.
Diz que o PT faz um esforço colossal para impedir que novas candidaturas
presidenciais surjam e coloquem a reeleição de Dilma em xeque.
Além
de querer destruir a provável candidatura de Eduardo Campos, o texto cita que o
PT orientou o Congresso Nacional a apoiar o PL que dificulta o surgimento de
novos partidos e reduz o tempo de propaganda eleitoral e o recebimento de
dinheiro do fundo partidário. A medida afeta em cheio a ex-senadora Marina
Silva (sem partido) que luta para criar uma legenda, a Rede de
Sustentabilidade.
Suape emite nota sobre a matéria
Em
relação à reportagem da Veja, veiculada neste sábado (15), intitulada “Quatro
agentes da Abin são presos por espionar Eduardo Campos”, o Complexo Industrial
Portuário de Suape emitiu uma nota de esclarecimento desmentindo a prisão dos
dos agentes.
Veja
nota na íntegra:
1. A
Polícia Militar de Pernambuco não efetuou qualquer prisão de agentes da Agência
Brasileira de Inteligência (Abin) no Complexo Industrial Portuário de Suape na
manhã de 11 de abril de 2013. A Segurança Patrimonial do Porto apenas impediu a
entrada dos agentes no porto organizado, considerado como área de segurança
máxima, porque eles queriam ter acesso ao local sem identificação. O
procedimento seria tomado com qualquer cidadão que desejasse fazer o mesmo.
2.
Após revelarem que eram da Abin, os agentes insistiram em ter acesso à área sem
identificação, o que não foi permitido devido ao ISPS Code cumprido rigidamente
por Suape. Trata-se de um código internacional para a proteção de navios e
instalações portuárias, criado pela Organização Marítima Internacional (IMO),
entidade vinculada à Organização das Nações Unidas (ONU). O código foi
instituído em 2002, após os atentados terroristas de 11 de setembro de 2001,
nos Estados Unidos.
3.
Mediante a negativa de liberação de permanência no local sem a devida identificação,
os agentes da Abin deixaram o local.
Fonte:
Revista Veja / Jornal O Estado de São Paulo / Blog da Folha / Edição Segurança Portuária Em Foco
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