Usuários
de crack encontraram na soja uma nova moeda de troca para sustentar o vício no
entorno do Porto de Paranaguá, no Litoral do estado do Paraná. Eles arrebentam
as bicas de caminhões carregados e levam o que conseguem.
Os
cadeados que reforçam a segurança dos caminhões não são suficientes para
impedir a ação dos viciados da “cracolândia da soja” na região portuária. Esses
pequenos furtos acontecem com mais frequência durante a noite e a madrugada,
quando os caminhoneiros saem do pátio de triagem para os locais de descarregamento
que funcionam 24 horas.
Na
maioria dos casos em que a soja é furtada dessa forma, os caminhoneiros
precisam enfrentar outro drama. Depois de atacados pelos dependentes químicos,
eles se deparam com os policiais, que, em vez de perseguir os usuários de
drogas, multam os caminhoneiros por sujar a via pública.
Eles
são obrigados a limpar a rua dos restos de soja que os “craqueiros” não
conseguiram pegar. Como estão nas filas que se formam nas ruas próximas aos
terminais, os caminhoneiros dizem também que não contam com a autoridade
portuária para zelar pela segurança dos veículos.
Para
o comandante do 9.º Batalhão da Polícia Militar do Paraná em Paranaguá, major
Nivaldo Marcelos da Silva, o maior problema é a dificuldade de manter essas
pessoas presas.
“Os
drogados que cometem esses furtos são conhecidos, mas, mesmo que sejam pegos em
flagrante, têm de ser soltos por causa da legislação vigente. Dessa forma, no
mesmo dia eles voltam a cometer os mesmos delitos”, diz.
O
major afirma que uma ação em conjunto com a Polícia Civil já prendeu alguns
receptadores da “soja suja”. “Prendemos alguns, mas outros receptadores
apareceram na mesma velocidade. Estamos constantemente investigando esses casos
e acreditamos que os grãos sejam manipulados na área rural de Paranaguá e em
alguns casos até levados para outras cidades”, completou. Sobre as multas, ele
disse que, se o caminhoneiro comprovar com um boletim de ocorrência que houve o
furto, pode recorrer.
Modus operandi
Os
caminhões de soja contam com dois sistemas de escoamento: as bicas, localizadas
na parte de baixo da carreta, e o tombador (na porta traseira do caminhão).
A
ação dos usuários de crack é rápida. Eles recolhem a soja das ruas com sacos e
até carrinhos de mão. Muitas vezes levam os produtos para cantos abandonados.
Depois, vendem os grãos por até R$ 10 a saca de 60 kg (contra R$ 60 do preço
normal) para as empresas que vivem da “soja suja”, o refugo que sobra nos
armazéns e dos caminhões e é utilizado para ração animal. Mas também há casos
de troca direta de soja por pedras de crack, segundo caminhoneiros locais.
Caminhoneiros são orientados a trancar
bicas
O
caminhoneiro Ivanildo Fernandes, de Tupãssi, no Oeste do Paraná, reforçou o seu
caminhão para evitar o prejuízo. “O que eu tenho feito é colocar um parafuso
grosso, com porca lisa, para dificultar as ações deles. Mas dá dó mesmo é dos
jovens caminhoneiros, que não têm essa malícia, vêm aqui e perdem muito, levam
multa e ainda têm de pagar o prejuízo”, diz.
Nem
os caminhoneiros parnanguaras conseguem fugir dos furtos. “É só parar o
caminhão na avenida que eles chegam a pé ou de bicicleta e levam a carga. Um
prejuízo de duas ou três sacas de soja já faz a gente perder quase a metade do
valor do frete. Ganhamos em torno de R$ 120 para levar uma carga com o caminhão
pequeno de um armazém ao outro. Quando somos roubados, recebemos só R$ 70”, conta
o presidente do sindicato dos condutores autônomos de Paranaguá, Ademir
Scumsson.
Resposta
O
Porto de Paranaguá, por onde foram exportados no ano passado 13 milhões de
toneladas de soja e derivados, diz que não pode policiar a área e que, desde
2012, orienta os caminhoneiros a trancar bem suas bicas e tombadores, para
evitar a ação dos viciados. As dicas são distribuídas antes de os caminhoneiros
chegarem à cidade, em parceria com as concessionárias das estradas que levam ao
porto, com a distribuição de folhetos com mapas da cidade e dicas para o
descarregamento.
“Hoje
esse é o nosso maior problema no porto, desde que eles criaram o pátio e o
sistema de controle do caminhão, que só é liberado para vir carregado do
‘Nortão’ quando tem espaço no porto”, afirma Daniel Rodrigues de Oliveira,
caminhoneiro de Toledo (PR).
Amador
Trindade Filho conta seu segredo para evitar a ação dos dependentes químicos.
“Tento chegar em Paranaguá no meio da madrugada para descarregar no começo da
manhã. O pior é chegar no fim da tarde, começo da noite. Aí, certamente você
será chamado para descarregar na madrugada.”
Fonte: Gazeta do Povo
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